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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TRANSFORMANDO UM PÉ NA BUNDA EM ARTE


Recordo-me que em 2009, estava ansiosa esperando pelo debate que ocorreria, na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), entre Sophie Calle e Grégoire Bouillier, seu ex-namorado, com quem viveu por sete anos. Ele finalizou o relacionamento através de um e-mail, que ao final dizia:"cuide-se".  Como ela mesmo disse, "fiz do limão, uma limonada". Em protesto (apesar dela negar),  enviou o e-mail a uma centena de mulheres e as pediu que o interpretassem, cada uma a seu modo. A partir daí, nasceu uma exposição que ganhou o mundo. O ex-namorado, por sua vez,  se sentiu invadido  ao ver sua vida exposta. Segundo li, ele disse que esperava que ela o procurasse(!) após o e-mail, para que conversassem pessoalmente, mas que ela simplesmente sumiu. Enquanto Sophie justifica que perante o susto, acompanhado da falta de consideração, decidiu digerir o fim da relação, imposto por ele, da forma que achou conveniente. 
O que mais me chamou atenção no debate ( a primeira vez que os dois se encontravam pessoalmente) foi que quando ele quis justificar o trabalho dela, separando a vida da arte, através dessa frase: “a arte nunca é sobre o público ou o privado é sempre sobre a interioridade de um sujeito”,  ela rebateu sem vergonha nenhuma, perante o mundo todo, dizendo que trocaria o sucesso da arte, pela vida ao lado dele: “Se Grégoire tivesse voltado para mim mesmo após o início do meu projeto, eu não teria levado isso adiante. Mas, como isso não aconteceu, tive a necessidade de me afastar do fato para poder lidar com o sofrimento. É assim que ajo com as coisas ruins de minha vida”.
Como  cantou Chico Buarque "para onde vai o meu amor, quando o amor acaba"? 
Interessante é que no e-mail, ele explica que terminou a relação, seguindo o pedido de Sophie, de nunca traí-la, e deixa claro, que apesar de amá-la como nunca amou ninguém, seria impossível seguir essa "regra" da fidelidade.
Abaixo, transcrevo o e-mail de Grégorie para Sophie, a meu ver, um ato de covardia. Um email!  Que resumindo é: te amo, mas não posse ser fiel, então...cuide-se. Simples assim. Ufa! 
"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz. No entanto, vou fazê-lo por escrito. Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas. Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar. Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide-se."

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse caso ficou famoso, os dois tinham culpa no cartório. Qdo se faz um acordo pra garantir uma relação, onde cada um faz o q quer, nem sempre o resultado é bom. Lavaram roupa suja em público, só a midia ficou interessada. Qdo ninguém é de ninguém, o amor é livre, mas morre de fome por falta de carinho, afeto e respeito. Nenhum casal sobrevive sem isso.

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