O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

RESPOSTA DO MEU AMIGO


Calma, muita calma nessa hora.
Casais envolvidos nos seus créditos e débitos... Todo mundo passa por isso.
Certa vez (lá vou eu) também fiz essas contas, sabe a conclusão que eu cheguei?
Eu estava lidando com coisas do passado, quando o que mais me preocupava era o futuro.
Como seria o futuro com aquela pessoa, seria tranqüilo, ela poderia oferecer alguma coisa diferente daquilo que me passava? Mesmo sabendo que era uma pessoa muito especial, só me mostrava um lado ruim e sem afeto ou carinho. Será que iria continuar assim? E os planos, os sonhos?  Eu acreditei no amor... só louco.
Vai ver, ela também tinha críticas severas e incontornáveis, inegociáveis, mal sabia eu que tudo poderia ser assim no futuro. Se eu tivesse que me sacrificar por alguma coisa, qual seria a contrapartida? Olha a moeda de troca aí...
Na ocasião não enxerguei nenhuma saída plausível, se comparada com toda a carga de carinho e amor que já tínhamos vivido. Na prática, eu estaria me aviltando e isso eu não queria. A troco de quê? Do amor? Que amor?
Foi então que eu decidi - essa relação acabou, não serve mais pra mim, muito menos para ela. Estamos os dois sofrendo à toa e sem saída. Ninguém vai mudar nada...
E saí... A duras penas, mas saí. Era o que ela queria também. Os tais créditos ficaram pendurados num prego na parede, os meus e os dela, não serviam para mais nada.
Mas uma coisa eu posso assegurar, nunca sacaneei ninguém, mesmo nas horas mais difíceis. Mas não seria isso que iria me consolar no futuro. Paguei tudo que tinha para pagar...
Se eu não era mais aquele, ela muito menos, simples assim....
Ninguém sabe o dia de amanhã, muita coisa muda com o tempo. 
Dê chance ao tempo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

AMOR COM AMOR SE PAGA





Quando chegava em casa com boas notas da escola, meu pai dizia que eu não fazia vantagem, por ser aquela minha única obrigação, no que discordava e pensava "mas isso não vale nem um creditozinho"?



A obrigação de um adolescente saudável vai muito além de um bom desempenho escolar, têm ainda a difícil tarefa de ser feliz apesar dos pais, do apelo consumista, de formar seus próprios conceitos, etc. Como disse Clarice Lispector - ser feliz consome tempo.

Lembrei-me dessa história quando um amigo especial defendeu que em relacionamento a dois, às vezes, é preciso usar os créditos que foram se acumulando durante o tempo de convivência. Teoricamente sou capaz de entender isso. Já na prática... Mas como tudo o que ele diz tem grande relevância para mim, continuo tentando assimilar essa idéia.


Você conhece uma pessoa, depois de muita conversa descobrem-se amigos, confidentes, cúmplices. Seguem a conferir o outro lado da moeda e fazem sexo, e tudo corresponde à inevitável expectativa de quem já se desconfiava apaixonado. Pouco tempo depois, essa miscelânea de afinidades torna-se amor.  Em um otimismo contumaz, acreditam a cada dia mais que foram feitos um para o outro. Chega a vida a dois. 
Ela se surpreende com seu bom humor e capacidade de superação nos momentos mais difíceis. Sem contar que nunca mais precisou chamar os serviços de eletricista, bombeiro ou encanador - ele é multifuncional! E olhando-o todo molhado, enquanto arruma o encanamento da cozinha, se faz aquela velha e tola pergunta: "Esse homem existe?"  - existe, por enquanto.
Ela, por sua vez, e absoluto prazer em vê-lo feliz, se debruça naquela receita de bolo que ele adora. Amor é isso.
Um dia ela fica doente.  Prova de fogo para uma relação que se inicia. Semanas sem sexo, sempre de camisola, deitada, descabelada. E ele ali. Incansável. Pediu licença do trabalho e, ora segurando sua mão, ora afagando seus cabelos, repete: "já, já isso passa, meu amor..." E passou, e a admiração só fez aumentar.
Amor se conquista ou se desperdiça é no dia a dia.
As viagens a dois eram deliciosas. Conversas sem fim, assim como gargalhadas das coisas mais tolas. E o sexo? Sem ninguém por perto, nem telefone, nem campainha... Dias e noites sem sair da cama - e ela continuava se perguntando: "Será um sonho?"  - caso seja, um dia você acorda.
Foi a vez de ele adoecer, e ela retribuiu dando o seu melhor, mantendo-se tão presente quanto ele. Nada nunca soou como sacrifício para nenhum dos dois.
Foi a gravidez mais paparicada e feliz, na companhia do melhor marido/pai que ela nem sabia existir. O bebê nasceu e ele foi seu apoio no hospital - dava banho, penteava-lhe os cabelos, trocava suas roupas, levava-a ao banheiro. Quase não dormiu. Nunca reclamou. “Existe príncipe encantado?" - Haja pergunta!
Então... Muitos créditos acumulados para ambos.
Porque amor para valer à pena,  tem que haver doação dos dois, em igual proporção.
Ninguém é capaz de fazer alguém feliz por obrigação. 



Quando um homem faz uma mulher feliz é porque ela também o faz feliz. Ele não merece aplausos da humanidade por isso, mas o mundo machista acha que essa mulher que foi "agraciada" e deve ajoelhar no milho e agradecer!! Mas e ela, que é tão dedicada quanto ele? Porque só ele deve ser ovacionado? A troca existe.  


- "Ah minha filha! Mas ele é fiel! Além disso é paciente, bom amante e ainda ajuda a esposa tomar conta do bebê!!!"
Qual o espanto? E ela? Não é tudo isso? Qual a diferença?
-"Ah, mas é diferente! Isso é assim desde que o mundo é mundo!"
Pois para mim, dane-se o mundo!

Outro amigo, ainda não tão amigo quanto esse que citei, mas também muito especial, me disse que todos os homens são imaturos. E como ele é uma pessoa muito inteligente e acredito no que ele me diz - sentença aceita. Mas abomino a idéia de ter que sustentar a imaturidade masculina.

Voltando ao meu pai, segundo quem eu não merecia nenhum crédito por ser boa aluna, até entendo, apesar de não concordar, porque estudar era de fato, uma obrigação.
Mas quando o assunto é relacionamento, me perco na concessão desses créditos que meu velho amigo defende. De qualquer forma, pela confiança que deposito nele, lhe concederei sempre o benefício da dúvida, e sigo tentando compreender.
Quando usá-los? 
Quem precisará utilizá-lo primeiro?
O marido maravilhoso que resolve dar de cima da vizinha ou toma um porre no bar com os amigos e chega em casa dando amostra grátis de uma ignorância até então desconhecida?
Ou a mulher dedicada que saiu para ir ao mercado e se desviou para a casa do seu professor de ginástica?
Cada um deu ao parceiro o que quis ou o que pode.
Crédito é saldo extra. Não me imagino "creditando" nada na conta do amor que o outro me dá e nem pedindo que "credite" na conta do amor que lhe dou.
Dedicar-se para ver o outro feliz, dizer "é por isso que eu te amo", fortalece a união, mas não garante bônus nenhum! Ele te dá, você devolve, e vice-versa.
A única obrigação que um casal tem é a de ser feliz. O que vem pela frente é conseqüência dessa escolha. Não há obrigação de deixar de jogar futebol aos domingos, nem de lembrar o aniversário dele, nem de assistir o filme que ela gosta. Qualquer concessão quando feita, que seja por amor, por ficar feliz em ver o outro feliz.

Mas... E o crédito do meu amigo... Não acho lugar para ele. 
Se dentro dessa relação maravilhosa, surge uma decepção porque ele se "enrabichou" por uma colega de trabalho, isso só aconteceu porque ele assim o desejou. Não cabe dizer: "Olha, eu sei que te magoei, mas não fiz por mal, você sabe que durante todos esses anos, dei o melhor de mim"?! 
Porque ela vai rebater: "Eu também"!
Mais honesto é dizer: “Aconteceu porque senti desejo, porque não sou tão feliz por causa disso ou por aquilo ou porque para mim, nossa relação não é tão intensa quanto pensava”.  Mas tentar minimizar o que machuca o outro usando o que você fez de bom é no mínimo desrespeitoso. 
Reconheço minha rigidez quanto o assunto é relacionamento a dois, conseqüência de muita coisa que vivi e assisti.
Mas ainda defendo que relação saudável é feita de troca, onde ambos estão sempre quites, e por isso não sobra e nem falta nada para ninguém.
O que pode haver é débito quando insistem em manterem-se juntos depois que já se magoaram. 
E dívida de relacionamento se cobra das maneiras mais perversas...
Será que vale à pena insistir? Quem sabe é melhor assumir o fim daquele projeto de vida, por mais difícil que seja? Não existe relacionamento que sobreviva à falta de cuidado.
O crédito do amor é receber amor. E não abater erros.
Nada apaga o que já doeu. 
Independente do que esteja certo ou errado, que são conceitos relativos, o casal se conhece e sabe o que magoa e decepciona o outro. E, se mesmo assim, o faz, é por desinteresse em manter a relação. Ou seja, tudo aquilo que um dia, fez brotar e crescer o amor deixou de existir, e com isso, ele vai definhar e vai morrer. É só questão de tempo. Não há crédito que possa salvá-lo.
Desculpe meu amigo.





quinta-feira, 17 de março de 2011

Amar


Ela era uma mocinha. Trabalhava no restaurante da tia. Já era noite e ela estava atrasada. A tia estava preocupada, porque suspeitava que ela estivesse com um certo moço que freqüentava o restaurante. Onde estariam? Fazendo o que?
Estes estavam na praia deserta sob o céu estrelado. Tudo era silêncio, a luz da lua refletida no mar, a voz distante das pessoas, o murmúrio das ondas mansas que lhe molhavam os pés. Distantes um do outro, não se tocavam. Apenas se olhavam. Ele tinha nas mãos um livro de poemas de amor de Pablo Neruda. Abriu o livro e começou a ler. Ela parou e não se mexeu até que a leitura terminasse.
Já era tarde quando ela chegou. O restaurante estava vazio. Entrou como se estivesse em transe - andava sonambulicamente, sem se dar conta da presença da tia.
- Onde você esteve? - a tia lhe perguntou com severidade.
- Na praia - ela respondeu sem acordar do transe.
A tia alvoroçou. Praia, lugar solitário, com um moço... E agora esse jeito sonambúlico, nunca visto. Coisa de muito grave deveria ter acontecido. E a imaginação da tia começou a ver cenas de nudez e amor carnal na areia, sob a luz do luar.
- O que foi que ele lhe fez? - ela perguntou quase gritando.
- Ele me leu um poema - a moça respondeu num sussurro calmo.
Aliviada das suas fantasias carnais, a tia se deu conta de que uma coisa muito mais grave acontecera. E com um profundo suspiro falou:
Leu-lhe um poema... Então você está perdida...
A tia conhecia os segredos do amor. O amor começa com a poesia. O corpo é um instrumento. A poesia é a música.

O que é amar além de verbo transitivo direto (indireto na poesia de Mário de Andrade)? O mundo inteiro a seus pés. Séculos tentando definir o indefinível, intocável, inefável - sufixos "in", pois é sempre mais fácil negar o que não se consegue explicar.  Milhões de poetas, conhecidos ou não, falam sobre ele. E quem é ele? Para Camões, lá no séc. XVI,  é um fogo que arde sem se ver.  
Encontro-o na pergunta feita por Santo Agostinho "O que é que amo quanto te amo?"


Nasci para ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa...


O poema de Fernando Pessoa traduz o que sinto (mas não explico) - o amor nasce em um tempo anterior ao encontro. O ser humano segue sua trajetória esperando o momento de dar vida ao que, mesmo inerte, sempre o habitou sendo o doce objetivo de sua jornada (mesmos para os mais endurecidos). E aí explode esse “acontecer a dois” – com a inevitável ilusão de que a partir desse encontro, nasce a possibilidade de expurgar as próprias imperfeições e curar as feridas. Faz parte.

Em minhas décadas de abstrações buscando formar a minha concepção de amor, tive e tenho fases - às vezes estou para Shakespeare in Love, noutras estou para Nietzsche.
Acho delicioso acreditar nesse amor romântico regado a vinho e poesia. Aquele reconhecimento profundo do "a gente olha e se entende", aquela sincronicidade indispensável, tão bem retratada por um amigo - "língua solta, cérebro rápido e cuspir emoção é o grande lance, faz com que pensemos juntos... E não um de cada vez, e este é grande barato do diálogo verdadeiro". Amar humaniza as expectativas.
A vida fica mais pesada quando deixamos de sonhar com esse amor indelével. 

Mas e quando um dos dois é invadido por um choque de realidade e percebe que aquela cumplicidade só existia na imaginação, que a relação tão especial, era mentira, que os projetos eram falsos, que aquilo que os sustentava era uma camada fina que escondia a escuridão que não se queria ver?  
Momento do fim, onde você deseja não ter conhecido o amor, para não ter que acolher essa dor. Momento onde coisas comuns, como tirar um porta-retrato da estante, torna-se punhal envenenando as cenas do que se viveu e destruindo o que ainda se esperava viver. 

Às vezes o sonho do amor vem, baixa das nuvens em fogo e pousa aos teus pés um candelabro cintilante. Dura uma tarde? Uma semana? Um mês? Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Para isso, o fundamental é saber que tudo vai acabar. O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não comporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos.
O alívio se confunde com o vazio, e você agora prefere morrer. A barra é pesada.
O verdadeiro amor é suicida como diz Ferreira Goulart? Às vezes acho que sim... Parece que tem prazo de validade. Noutras vezes simplesmente acredito no para sempre, no encontro de almas gêmeas. Quando é que
penso de um jeito e quando é que penso do outro? Nem imagino.
Para proteger-se dessa dor, há de privar-se da delícia de viver o amor. 
Vale à pena, ou vale o risco?
Também não sei dizer. Sempre me joguei, de costas, sem a mínima proteção. Vivi pouquíssimos amores, os que foram de mentira, por si só se desvaneceram, como poeira ao vento, não me deixaram nada, pois o que ficou já estava destinado a mim. Os outros foram intensos e de verdade. Tive tudo o que esperei deles, mas tive também o que não esperei e não gostei do que vi.
Assim (nesse momento) vou de Vinícius de Morais, acreditando que o amor é infinito enquanto dure.


domingo, 13 de março de 2011

Cíúmes


Ciúme é um tema recorrente nos relacionamentos desde os primórdios da humanidade, tendo destaque entre filósofos de todos os séculos, e continua existindo “atavicamente” e sem nenhum tipo de evolução, que não a teórica, em pleno século XXI.
 Na peça Otelo, de Shakespeare, há a clássica fala de Iago:
“Oh, tende cuidado com o ciúme. É um monstro de olhos verdes, que zomba da carne de que se alimenta".
 Seria ele inerente aos seres humanos, desde a época em que os homens da caverna faziam uso desse sentimento para proteger sua tribo?  Se assim fosse, carregaríamos um sentimento instintivo, remanescente de um período humano praticamente irracional. Revendo... Se racionalidade não é lá o grande destaque em relacionamentos amorosos, pelo menos é preciso um esforço coordenado nesse sentido. Porque destruir a possibilidade de relações saudáveis, chegando ao cúmulo de destruir vidas em nome do ciúme, é inadmissível.

Hoje pela primeira vez tive ciúmes dos olhos do meu primo”. 
Porque eles viram-te e eu não te vi”. 

Confesso-me totalmente parcial quando se trata de Fernando Pessoa, mas essa doçura com que ele se refere ao ciúme está valendo... Sentimento gostoso destinado a quem se quer sempre ao lado para dividir a vida. Ciúme dos olhos que a olham, dos sorrisos que lhe dirigem, das mãos que lhe estendem. Existe esse ciúme que é cuidado e não posse (mas eu tinha vontade de arrumar outro nome para esse sentimento que não ciúme, poderia mesmo ser “cuidado”). 

Dizem que sentimentos irracionais fazem sentido quando entendemos o que está por trás deles. O que vemos por trás do ciúme nos relacionamentos amorosos é o medo, real ou irreal, vergonha de se perder o amor da pessoa amada, falta de confiança no outro e/ou em si mesmo. Esses sentimentos podem estar embasados em alguma coisa real, como já ter sido traído por exemplo. 
Mas racionalmente, nada justifica esse sentimento. Pois senti-lo, não modifica os fatos - se tiver que ser traído, será, se tiver que ser abandonado, será, se tiver que ser trocado pelo seu melhor amigo, será. Sentir ciúme não tem utilidade nenhuma. Não ajuda, não previne, não defende, e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.
Eu fui muito ciumenta, hoje sou bem menos, ainda sim, não me conformo em sê-lo, pelo simples fato de eu ser tão consciente acerca da total incoerência desse sentimento. É a irracionalidade do amor.

Diz Rubem Alves que "O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente".

Enfim, ciúme resume-se em desejar a posse absoluta do outro. Não basta se saber amado. Busca-se a garantia ilusória de que aquela pessoa nasceu a partir do momento em que te conheceu - não tem passado para recordar, e nem futuro para almejar, que não a sentença de viver com você e para você. 

Como a vida nunca nos dá garantia, tudo isso é absolutamente em vão. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

UMA CATARSE

Deixo com vocês mais um desabafo. Para essa pessoa, que me acompanha desde o início do blog, tenho tentado dar respostas diariamente. 
Obrigada ao amigo que lhe encorajou essa catarse ao vivo e à cores.
Quando o dia teima em não amanhecer para mim, preciso desabafar. Como não gosto de falar, escrever é minha opção. 
Nasci em um ambiente ruim. Uma mãe emocionalmente doente e um pai intransigente que vivia afogado em suas próprias dualidades.  Faltou-me paz para crescer segura e tranqüila. Passei a minha vida cuidando de minha mãe e odiando meu pai por isso.  Para fugir desse inferno, casei-me aos 19 anos, mesmo sob fervorosos protestos. Freud explica porque escolhi um homem com características tão parecidas com aquelas que eu tanto abominava no meu pai. Acho que vivi um "complexo de Electra disfuncional" - meus pais tinham uma relação péssima e eu assumia as funções de minha mãe, cobrando do meu pai uma postura que tornasse mais digna, a vida de todos da casa. Tornei-me adulta ainda muito pequena, na minha vida não houve espaço para manhas e mimos. Com meu pai aprendi sobre idéias e práxis, muito antes de estudar Marx. Ele era cheio de ideologias cantadas diariamente em frases prontas que eu conhecia de trás para frente (minha vida é um livro aberto, um homem precisa ser transparente, minha consciência me permite deitar e dormir, nunca falei o que não pudesse cumprir, e por aí vai). Apesar de péssimo marido, eu ainda acreditava no grande homem. Dois meses antes do meu casamento, me descobri grávida. Foi um misto de sentimentos - difícil explicar - um filho, que eu sempre sonhei em ter, e a decepção para o homem corretíssimo, acima de qualquer suspeita, exemplo de cidadão, quase dono de uma cidade pequena e elitista, que ainda transbordava coronelismo por todos os lados, e que por acaso era meu pai. Fiz um aborto em uma clínica chique e fria do RJ. Sozinha, sem dizer nada a ninguém. Tive a visão do inferno. Chorei até achar que ia enlouquecer, não enlouqueci. Mas também nunca parei de chorar completamente. Meu filho teria 24 anos. 
Dois anos depois, já casada e tão infeliz quanto minha mãe, descobri absolutamente sem querer, que aquele homem acima de qualquer suspeita, tinha praticamente outra família, além de um harém. Meu mundo desabou por debaixo dos meus pés sem que eu tivesse tempo de me segurar. Desabei ao chão, mas fui içada com a mesma rapidez, pelo ódio que me consumiu naquele momento. Tirei meu filho para proteger esse homem. Novamente pensei que fosse enlouquecer. Dessa vez, quase enlouqueci. Achei na terapia e no filho que agora ia nascer, meu apoio. Nunca superei, mas aprendi a lidar com essa dor eterna.
Com pouquíssimo tempo de casada, vivendo em absoluta solidão, voltei à faculdade, e lá, me apaixonei. Como mentir sempre me amedrontou mais do que falar a verdade, separei-me, dando todos os motivos, inclusive o fato de estar amando outro homem. Fui escorraçada. Acabava de completar 23 anos, um filho pequeno, financeiramente dependente do marido, ou do pai (o que significava a mesma coisa) e vivendo uma bela história de amor com um estudante de 20 anos, muito mais maduro e corajoso do que todos os homens que me cercavam. Enfrentei tudo de forma aguerrida, inclusive a falta do dinheiro, até que ameaçaram tomar a guarda do meu bebê, isso eu não suportaria. Sofri com tanta intensidade que só pelo meu filho, consegui continuar. Eu sentia na alma a falta daquele amor que tive que deixar, sem chance de escolha, além de carregar comigo, a culpa pela dor que ele também estava sentindo. Estava dilacerada. Sofria por mim, por nós dois, e pelo futuro que fui forçada a abrir mão de viver.
Retomei meu casamento, até que a infelicidade começou, assim como ocorreu com minha mãe, a me consumir fisicamente. Ainda vivi oito anos na mesma vida miserável, até que me separei definitivamente. O preço de minha liberdade foi altíssimo. Ouvi de meu pai que me faltou boa vontade para "empurrar" o casamento... Pasmem!  Eu não queria uma vida empurrada, queria uma vida vivida. Deixei bens, dinheiro, e estabilidade financeira, para que eu pudesse recuperar minha saúde física e emocional.  Alguns anos depois, encontrei uma pessoa em quem decidi apostar. O preço por essa escolha foi muito mais alto do que aquele pago pelo divórcio. Por um tempo pude ficar em paz. Tinha uma fazenda que era a "menina dos meus olhos", continuava na empresa do meu pai, onde trabalhava desde os 17 anos, e, mesmo sendo um peso para mim, eu conseguia sublimar e me sentir feliz. Até que as coisas começaram a tomar um rumo que fugiu ao meu controle. Quando dei por mim, fui convidada a me retirar da empresa, e perdi outra vez, um grande amor - aquela fazenda, não pelo seu valor material, mas pelo que seu significado. Ali eu plantava minhas roseiras, minhas ervas medicinais, meditava sob as imensas mangueiras, lia no meu jardim, caminhava entre eucaliptos e quaresmeiras que eu mesma plantei, nadava no açude cheio de patos selvagens, andava a cavalo, relaxava por horas no orquidário que eu mesma fiz, cozinhava no fogão à lenha, passava noites enrolada no cobertor, olhando a lua e quem sabe esperando ver um disco voador (não riam, é sério) e ainda planejava cada detalhe para ali envelhecer e terminar meus dias. Em menos de uma semana foi tudo embora. Vendido. A fazenda não era minha de fato. Nada nunca foi meu de fato. Tudo pertencia ao meu pai. Passei noites sonhando com tudo aquilo, acordava assustava no meio da noite, sentindo cheiro de mato. Chorava com reservas, pois me envergonhava sofrer por algo material. Até conseguir compreender que lá continha vida, e era a minha vida. 
Nessa mesma época eu perdia minha família a conta gotas - enterrava pessoas vivas todos os dias. Uma experiência dolorosa. Todos que me viram crescer ou cresceram comigo, e que eu acreditava me amar incondicionalmente, me condenaram e me deixaram só.  Meu pai era o maestro dessa orquestra - ele comandava, enquanto eu era uma simples integrante, até o momento de minha expulsão. A experiência que ganhei com o passar dos anos garantiram-me a confiança de nunca mais abrir mão das minhas escolhas, em prol de terceiros que tinham por mim um amor efêmero.
Ainda não consegui assimilar tudo. As perdas foram enormes, constantes e com explicações nada convincentes, para quem se guia pelo coração. Como se mede o valor de uma pessoa pela obediência ou não, de "regras" impostas por uma ditadura patriarcal? Fui julgada e condenada sem nunca ter sido ouvida. Ninguém se deu ao trabalho de me procurar para saber como eu estava naquele momento em que tinha perdido o emprego, o meu "lugar sagrado" (como todos se referiam à fazenda), e ainda por cima, tinha sido ejetada (termo recém aprendido) da família e seus laudos almoços de domingo, festivos natais, e inúmeros aniversários. 
O tempo passou, mais de quatro anos já se foram desde aqueles piores dias. Nada nunca será como antes, nem dentro e nem fora de mim. Hoje, depois de tanta superação, aprendi a ficar só. Não dependo de ninguém para estar bem. E nesse aprendizado, sinto que me afasto cada vez mais do mundo. Meu grau de exigência ficou além das possibilidades das pessoas e aquém das expectativas de quem não quer mais errar e nem se machucar.
Não me sinto infeliz, só me sinto em meio a uma busca que me deixa exausta, pois parece não ter fim. Eu, literalmente não vim ao mundo à passeio, e cada vez mais só enxergo ao meu redor, pessoas com mochilões nas costas, com o propósito único de garimpar emoções e pessoas imaginárias ao invés de garimpar dentro e fora de si, o que é substancial. 
Eu já vi muito do que existe lado de fora, e sinceramente, não gostei de quase nada, então, prefiro ficar quieta, olhando para dentro. Vez ou outra me surpreende o que vejo, e gosto. 
Tornei-me uma excelente companhia para mim e cada vez fica mais difícil encontrar um bom motivo que me faça conceder um espaço para que alguém entre e me faça companhia. Porque precisa ser realmente, uma exímia companhia.
Enfim, crescer dói.

sábado, 5 de março de 2011

EU ME AMO


Cacos espalhados pelo chão teve um eco imenso, basta conferir os comentários. Ainda fico arrasada com a dor alheia que chega até mim através do blog, e sinceramente, espero ficar para sempre, pois se eu parar de me indignar, acatarei tudo como sendo normal - e passarei a olhar quem fere e quem é ferido, como partes integrantes e aceitáveis das relações de amor. E, para mim, jamais será assim. No amor, não acredito em vítimas e algozes de terceiros, apenas em vítimas e algozes de si mesmo. E tudo começa quando se olha, mas não se vê.
Quando se acredita que é na mão do outro que está a sua felicidade, você torna-se presa fácil da infelicidade. Uma metade trôpega e sem rumo, em busca de outra metade, que também perambula mundo afora atrás de quem lhe prometa a completude, são duas pessoas claudicantes, buscando muletas e não parceria para se viver o amor. Não há possibilidade de relacionamento saudável entre amantes adoecidos. É indiscutível a necessidade de ficar inteiro, para só então, apostar em ficar junto. É difícil, mas é o caminho onde está a maior probabilidade de acerto.
 “Gato: Para onde você quer ir? 
Alice: Não sei...
Gato: Se você não sabe aonde quer ir, todos os caminhos levam a lugar nenhum. " 
Verdade difícil de ser colocada em prática.  Muito difícil mesmo. Quem sabe ao certo para onde quer ir? A maioria aguarda o grande amor para só então, decidir. E aí...  
Expectativa e frustração andam quase sempre de mãos dadas.  É preciso aprender a fazer escolhas pessoais para conseguir, na vida a dois, acertar qual a hora de recuar e qual a hora de avançar, sem nunca lesar e nem se sentir lesado. Isso só é possível quando se é dono de suas emoções e sabe o quanto de concessões é possível fazer sem correr o risco de perder-se de si mesma. 
Enfim, o sucesso da vida a dois, depende antes de tudo de uma cura pessoal. Estando pronto, você não precisa de... 
Você apenas quer...

quinta-feira, 3 de março de 2011

CACOS ESPALHADOS PELO CHÃO


Esse desabafo me foi autorizado, pela autora, a ser postado aqui. Porque apesar dela se sentir fracassada, ela é uma fênix, em um processo de eterno renascimento! E a cada vez que renasce, surge mais corajosa, sensível, inteligente, mesmo que ela não acredite nisso. Ainda! É uma história de dor, decepção, arrependimento, de "cacos espalhados pelo chão". O maior tombo veio do relacionamento virtual, mas os outros vieram através dos reais mesmo. Não errei quando disse que o fato de sermos enganados, quase sempre vem com fator carência e solidão. Precisamos aprender a desenvolver o afeto por quem somos, para não caírmos nas garras dos "picaretas" de plantão. Isso serve para os homens e mulheres. Pois as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos. Vamos lá, pois tenho certeza de que uma nova escritora vem chegando por aí, em breve! Beijos querida e obrigada pela confiança.
Oi Marcela,
vou tentar resumir aqui como eu conheci de perto as decepções de um relacionamento virtual.
Bem, há mais ou menos 10 anos atrás, eu estava com 28 anos, 3 filhos pequenos e 2 casamentos falidos. O último recém-desfeito, pelo mesmo motivo do anterior - traição.(Ok. Tenho algum problema, porque desde o primeiro namorado ao último marido, TODOS me traíram...rs) Estava com a auto-estima abaixo de zero, insatisfeita com meu emprego, e me sentindo um lixo, literalmente. A vida não fazia nenhum sentido pra mim. Sabe quando você fica se perguntando: o que foi que eu fiz para que tudo desse errado? E agora eu com 3 crianças que dependem de mim, sendo que eu não me agüento comigo mesma? Assim sendo, fatalmente caí numa profunda depressão, nem da cama eu levantava. Enfim, por intermédio do meu filho, fui apresentada às salas de chat, ele insistia muito para que eu fizesse alguma coisa pra me distrair. Comecei a gostar de fazer amizades, a princípio só com mulheres, que na maioria das vezes viviam situações semelhantes à minha, trocávamos confidências e experiências. Mas, de coração, eu não estava - não queria - procurando homem. De jeito nenhum! Meu coração estava em estado de choque ainda...
Passados uns 6 meses, uma bela tarde de domingo, estava eu num chat e um sujeito me chamou para papear. Proseamos horas e horas. A conversa fluiu agradável, o cara parecia uma pessoa culta, e, assim como eu, também dizia estar à procura somente de AMIZADE. Contou-me que estava recém-separado, e que a mulher, anunciou que estava grávida, para seu desespero e decepção. Começamos a nos falar todos os dias. Ele tinha e (tem) um bom emprego, me parecia uma pessoa bem de vida, bem resolvida, etc. Dizia que assumiria a criança, mas que não tinha mais nada com aquela mulher, que provavelmente engravidara para tentar segurar o casamento. Achei tudo razoável, afinal, existem MESMO mulheres que ainda hoje acreditam que seguram homem com filho (!?!?!?!!?!?!?!). Conversamos muito de julho a dezembro, e naturalmente foi surgindo uma admiração, carinho, curiosidades a mais, vontade de se conhecer melhor... Ele insistiu muito para que eu viesse para cá (cidade onde ainda moro) para conhecê-lo. Dizia que morava em uma pensão, mas com total privacidade, que eu poderia vir sem medo, que iríamos apenas nos conhecer, como bons amigos, etc, etc, etc... Menina, você acredita que, eu, em pleno século XXI, separada de dois casamentos e com bons anos nas costas, caí na conversa deste ilustre desconhecido????????????????????? NÃO! Não pensei em nada de ruim, acreditei piamente em tudo o que ele me disse, inclusive nas coisas que a princípio me pareciam meio estranhas... tipo: finais de semana ia pra SP passar com a mãe - ou então – aqui na cidade não ficava desfilando muito pelas ruas, pois no trabalho todos pensavam que ele morava na capital (???). Mas acho que na verdade eu QUIS acreditar no que ele me dizia, por isso acabava arrumando um jeito de fazer tudo parecer normal.
Combinamos tudo, e, numa baita coragem, falta de juízo, extrema carência, ingenuidade, ou sei lá o que, embarquei para um fim de semana na cidade que hoje é meu lar... rsrs
Ele já tinha me conquistado com as conversas, os elogios rasgados, as horas perdidas comigo, que me faziam sentir importante, e tantas outras coisas que os canalhas sabem fazer muito bem e nas quais nós, BESTAS E IDIOTAS que somos, acreditamos... Tudo correu maravilhosamente bem naqueles dias. Ah!! Aquele papinho de "apenas bons amigos" não demorou 15 minutos... rsrs Caímos nos braços, um do outro, e não nos largamos até a hora de eu voltar.
Aí, minha amiga, já estava tudo perdido. Eu caidinha por esse "estranho" que me pareceu saído dos sonhos de qualquer Gata Borralheira, e encontrei ali uma luz no fim do túnel, a oportunidade para uma nova vida, um recomeço do zero mesmo, longe de tudo e de todos que me fizeram mal, e que me traziam lembranças dos tempos sofridos... Nos meses que se seguiram foram inúmeras viagens, eu nunca ficava satisfeita longe dele, e vice-versa... Mas eu já tinha toda uma vida estruturada, filhos, trabalho, família... Depois de quase um ano nessa confusão, e depois de muita insistência da parte dele, com a cara e a coragem larguei TUDO, e me mudei pra cá com meus filhos. Aí começaram os tombos, amiga... Com muito pouco tempo aqui, fui descobrindo aquelas pecinhas do quebra-cabeça que não se encaixavam, sabe? Tipo - onde ele realmente morava, as várias mulheres que passavam os fins de semana com ele, de toda parte do Brasil, e, pasme!!! Ele negava tudo, veementemente, toda vez que eu o questionava.
Acontece que em menos de 1 ano eu descobri que aquele homem por quem eu me apaixonara perdidamente, simplesmente não existia... Agora, imagine você: eu longe de tudo, com meus 3 filhos já estudando aqui, eu trabalhando para manter a casa... Como contar tudo isso a meus pais?Como chegar e dizer: ferrei-me mais uma vez, voltar e encarar as pessoas rindo da minha cara de novo... Não dava, não tinha estrutura, simplesmente, eu não suportaria. E o que eu fiz???NADA - ABSOLUTAMENTE NADA! Deixei a vida correr do jeito que estava, convivendo com uma pessoa que a esta altura já me desprezava, porque eu fiz com que suas máscaras caíssem, e nenhum de nós dois suportava conviver com a realidade como ela era. Tinha no meu caminho uma primeira mulher traída e abandonada por um marido que segundo ela, sempre fora infiel; uma ex-quase-ainda-amante que já tinha 1 filho dele, e uma agora-atual-amante grávida... Sem contar as coisas mais absurdas e desrespeitosas que ia descobrindo ao longo do tempo: mensagens no celular de 500 mulheres diferentes, com quem ele mantinha estranhos relacionamentos virtuais, cheios de promessas, como comigo; e-mails eróticos e pornográficos (nojentos) de todo tipo, para as mesmas e para outras tantas. Meu Deus... Eu não acreditava que vivia tudo aquilo a tal altura da minha vida!!! Quer mais??? Eu sozinha nessa lonjura que Deus deu, sem ter onde e em quem me apoiar, escondi tudo isso de todo mundo por puro orgulho de não querer assumir mais um fracasso...  E, acredite se quiser mais sozinha do que nunca, fui me afundando cada vez mais em depressão. Deixei que minha filha do meio fosse morar com a tia, deixei que meu filho voltasse para nossa cidade, e até cheguei ao extremo de deixar que a pequena ficasse com o pai dela por quase 2 anos. Eu não tinha a menor estrutura pra nada. Me tornei uma desequilibrada. Não queria trabalhar, não queria falar com ninguém, não ia a minha cidade natal nem pra passear. Me afastei de tudo e de todos sem saber como fazer para voltar a viver, na verdade, nem sei se realmente eu queria viver... E esse homem, além de extremamente vigarista e cafajeste, ainda me torturava com ciúmes do nada e de tudo, do carteiro ao jardineiro, todos eram meus amantes, e eu nem querendo me vestir e me pentear ainda tinha condições de ter algum amante? Meu Deus! Olha, foram os anos mais sofridos e dolorosos de toda a minha vida. Houve muitas agressões: verbais, morais e físicas. Fiz um monte de boletins de ocorrência na Delegacia da Mulher, pois ele me batia, além de me colocar pra fora de casa e trancar tudo, e sumir por dias a fio, mesmo sabendo que eu não tinha ninguém aqui... Eu vivi no inferno! E tudo isso sem contar um nada para minha família. Foi há pouco tempo que contei tudo para o meu pai. Eu estava desesperada e já tinha tentando o suicídio 2 vezes...  Aos poucos trouxe meus filhos de volta, alugamos um AP pequenininho e me mudei, de novo, sem nada, só com objetos pessoais. Outra vez começar do zero... Por sorte consegui um emprego melhor, através de uma amiga que me socorreu nas horas mais difíceis que passei aqui, e aos trancos e barrancos fui me refazendo economicamente, e empurrando a vida com a barriga. E é só isso que eu faço até hoje - empurro a vida com a barriga. Tenho dentro de mim um vazio tão grande que acho que já é maior que meu eu interior. Sinto-me fracassada como mãe, como mulher, como filha, como esposa então... nem se fala. E vivo assim, afundada numa depressão sem fim, tomo trilhões de remédios - um pra dormir, um pra levantar, um pra me manter de pé, um pra chorar menos, um pra abaixar a pressão, um pra acalmar o estômago - e por aí vai. Sou tomada de enxaquecas terríveis que me deixam de cama. Não tenho a MENOR vontade de me aprontar, de sair, de conhecer NINGUÈM. Vivo na solidão de um eremita, em uma cidade com quase um milhão de habitantes. Estou em tratamento para a depressão há séculos, mas não vejo nenhuma melhora, na verdade, não quero muito sair dessa, não tenho motivação, sei lá...
A vida segue seu curso e eu vou ao léu, onde a maré me leva. Um dia está mais pra cima, no outro estou no fundo do poço... O fato é que as feridas não tiveram tempo de cicatrizarem, pois em cima delas houve novos e ainda mais profundos ferimentos. Sinto-me um caco... É isso que sou - cacos esparramados pelo chão... Sem querer me fazer de vítima, acho que fui totalmente responsável pela situação em que me encontro hoje, e talvez por isso, tanto me dói. Talvez se eu tivesse feito tudo diferente... Talvez... Se... Nunca vou saber... Só sei que tento encontrar uma força sobre-humana para me levantar toda manhã, e a mesma força para me manter de pé até a tão esperada hora de cair na cama de novo...
Bem, escrever isso aqui já é um alívio imenso...  E talvez sirva ao menos para ajudar a alertar outras mulheres que, na imensa carência que a solidão trás, acabam se deixando levar pelas mais banais histórias de homens que, no fundo, só querem se aproveitar.

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