O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

AMOR COM AMOR SE PAGA





Quando chegava em casa com boas notas da escola, meu pai dizia que eu não fazia vantagem, por ser aquela minha única obrigação, no que discordava e pensava "mas isso não vale nem um creditozinho"?



A obrigação de um adolescente saudável vai muito além de um bom desempenho escolar, têm ainda a difícil tarefa de ser feliz apesar dos pais, do apelo consumista, de formar seus próprios conceitos, etc. Como disse Clarice Lispector - ser feliz consome tempo.

Lembrei-me dessa história quando um amigo especial defendeu que em relacionamento a dois, às vezes, é preciso usar os créditos que foram se acumulando durante o tempo de convivência. Teoricamente sou capaz de entender isso. Já na prática... Mas como tudo o que ele diz tem grande relevância para mim, continuo tentando assimilar essa idéia.


Você conhece uma pessoa, depois de muita conversa descobrem-se amigos, confidentes, cúmplices. Seguem a conferir o outro lado da moeda e fazem sexo, e tudo corresponde à inevitável expectativa de quem já se desconfiava apaixonado. Pouco tempo depois, essa miscelânea de afinidades torna-se amor.  Em um otimismo contumaz, acreditam a cada dia mais que foram feitos um para o outro. Chega a vida a dois. 
Ela se surpreende com seu bom humor e capacidade de superação nos momentos mais difíceis. Sem contar que nunca mais precisou chamar os serviços de eletricista, bombeiro ou encanador - ele é multifuncional! E olhando-o todo molhado, enquanto arruma o encanamento da cozinha, se faz aquela velha e tola pergunta: "Esse homem existe?"  - existe, por enquanto.
Ela, por sua vez, e absoluto prazer em vê-lo feliz, se debruça naquela receita de bolo que ele adora. Amor é isso.
Um dia ela fica doente.  Prova de fogo para uma relação que se inicia. Semanas sem sexo, sempre de camisola, deitada, descabelada. E ele ali. Incansável. Pediu licença do trabalho e, ora segurando sua mão, ora afagando seus cabelos, repete: "já, já isso passa, meu amor..." E passou, e a admiração só fez aumentar.
Amor se conquista ou se desperdiça é no dia a dia.
As viagens a dois eram deliciosas. Conversas sem fim, assim como gargalhadas das coisas mais tolas. E o sexo? Sem ninguém por perto, nem telefone, nem campainha... Dias e noites sem sair da cama - e ela continuava se perguntando: "Será um sonho?"  - caso seja, um dia você acorda.
Foi a vez de ele adoecer, e ela retribuiu dando o seu melhor, mantendo-se tão presente quanto ele. Nada nunca soou como sacrifício para nenhum dos dois.
Foi a gravidez mais paparicada e feliz, na companhia do melhor marido/pai que ela nem sabia existir. O bebê nasceu e ele foi seu apoio no hospital - dava banho, penteava-lhe os cabelos, trocava suas roupas, levava-a ao banheiro. Quase não dormiu. Nunca reclamou. “Existe príncipe encantado?" - Haja pergunta!
Então... Muitos créditos acumulados para ambos.
Porque amor para valer à pena,  tem que haver doação dos dois, em igual proporção.
Ninguém é capaz de fazer alguém feliz por obrigação. 



Quando um homem faz uma mulher feliz é porque ela também o faz feliz. Ele não merece aplausos da humanidade por isso, mas o mundo machista acha que essa mulher que foi "agraciada" e deve ajoelhar no milho e agradecer!! Mas e ela, que é tão dedicada quanto ele? Porque só ele deve ser ovacionado? A troca existe.  


- "Ah minha filha! Mas ele é fiel! Além disso é paciente, bom amante e ainda ajuda a esposa tomar conta do bebê!!!"
Qual o espanto? E ela? Não é tudo isso? Qual a diferença?
-"Ah, mas é diferente! Isso é assim desde que o mundo é mundo!"
Pois para mim, dane-se o mundo!

Outro amigo, ainda não tão amigo quanto esse que citei, mas também muito especial, me disse que todos os homens são imaturos. E como ele é uma pessoa muito inteligente e acredito no que ele me diz - sentença aceita. Mas abomino a idéia de ter que sustentar a imaturidade masculina.

Voltando ao meu pai, segundo quem eu não merecia nenhum crédito por ser boa aluna, até entendo, apesar de não concordar, porque estudar era de fato, uma obrigação.
Mas quando o assunto é relacionamento, me perco na concessão desses créditos que meu velho amigo defende. De qualquer forma, pela confiança que deposito nele, lhe concederei sempre o benefício da dúvida, e sigo tentando compreender.
Quando usá-los? 
Quem precisará utilizá-lo primeiro?
O marido maravilhoso que resolve dar de cima da vizinha ou toma um porre no bar com os amigos e chega em casa dando amostra grátis de uma ignorância até então desconhecida?
Ou a mulher dedicada que saiu para ir ao mercado e se desviou para a casa do seu professor de ginástica?
Cada um deu ao parceiro o que quis ou o que pode.
Crédito é saldo extra. Não me imagino "creditando" nada na conta do amor que o outro me dá e nem pedindo que "credite" na conta do amor que lhe dou.
Dedicar-se para ver o outro feliz, dizer "é por isso que eu te amo", fortalece a união, mas não garante bônus nenhum! Ele te dá, você devolve, e vice-versa.
A única obrigação que um casal tem é a de ser feliz. O que vem pela frente é conseqüência dessa escolha. Não há obrigação de deixar de jogar futebol aos domingos, nem de lembrar o aniversário dele, nem de assistir o filme que ela gosta. Qualquer concessão quando feita, que seja por amor, por ficar feliz em ver o outro feliz.

Mas... E o crédito do meu amigo... Não acho lugar para ele. 
Se dentro dessa relação maravilhosa, surge uma decepção porque ele se "enrabichou" por uma colega de trabalho, isso só aconteceu porque ele assim o desejou. Não cabe dizer: "Olha, eu sei que te magoei, mas não fiz por mal, você sabe que durante todos esses anos, dei o melhor de mim"?! 
Porque ela vai rebater: "Eu também"!
Mais honesto é dizer: “Aconteceu porque senti desejo, porque não sou tão feliz por causa disso ou por aquilo ou porque para mim, nossa relação não é tão intensa quanto pensava”.  Mas tentar minimizar o que machuca o outro usando o que você fez de bom é no mínimo desrespeitoso. 
Reconheço minha rigidez quanto o assunto é relacionamento a dois, conseqüência de muita coisa que vivi e assisti.
Mas ainda defendo que relação saudável é feita de troca, onde ambos estão sempre quites, e por isso não sobra e nem falta nada para ninguém.
O que pode haver é débito quando insistem em manterem-se juntos depois que já se magoaram. 
E dívida de relacionamento se cobra das maneiras mais perversas...
Será que vale à pena insistir? Quem sabe é melhor assumir o fim daquele projeto de vida, por mais difícil que seja? Não existe relacionamento que sobreviva à falta de cuidado.
O crédito do amor é receber amor. E não abater erros.
Nada apaga o que já doeu. 
Independente do que esteja certo ou errado, que são conceitos relativos, o casal se conhece e sabe o que magoa e decepciona o outro. E, se mesmo assim, o faz, é por desinteresse em manter a relação. Ou seja, tudo aquilo que um dia, fez brotar e crescer o amor deixou de existir, e com isso, ele vai definhar e vai morrer. É só questão de tempo. Não há crédito que possa salvá-lo.
Desculpe meu amigo.





4 comentários:

Anônimo disse...

Não posso tapar a sua visão dessa conta corrente afetiva e emocional. Chega a ser amarga. As moedas de troca tem valores diferentes, posso usar dólar e ela usar euros. Vai depender de cada situação. Seria um artifício contábil? Amor não tem contabilidade, claro. Mas se o parceiro abusou do cheque especial, pagando eu juro, eu juro, ele já está sem crédito. Mas se o crédito existe, é pra ser usado nas piores horas, eu acho. A não ser q a parceira seja uma gerente desalmada, cobre a promissória do amor e mande pro pau a relação. Aí, os créditos q se danem...

Refúgio de Palavras disse...

Amei, Marcela... Disse tudo e mais um pouco... Sem dúvida nenhuma, eu sempre bati nesta tecla: "AMOR COM AMOR SE PAGA". Muito bom, apesar de ser eu uma discrente no tão falado AMOR, ele pode existir para outras pessoas, né... Também não sou tão cética assim...rsrsrs Parabéns pelo post. Beijo ♥

Simone P. Cardoso disse...

Oi Marcela. Adorei o novo visual do blog. Fazia tempo que não vinha aqui, muita correria. Estou colocando as minhas espiadinhas em dia.

Muito bem colocadas suas palavras.

Beijocas e tenha um excelente fimd e semana

Marcela disse...

Pois então...tb me considero a gerente incapaz de tirar os créditos da alma, tiro-os ainda com mta dificuldade do pouco de racionalidade que tenho. Mas estou tentando achar o meio termo. Obrigada a vcs. Obrigada Lu, Obrigada Simone. Bjos

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