O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

De repente


Uma garota escreveu ao blog contando sua história. Uma vida densa como céu que antecede a chuva e um presente leve como céu sem nuvens. Sente medo dessa novidade – dias ternos que nasceram a partir de um encontro de amor.
Pede minha opinião em um momento que repenso: de que servem opiniões? Para encorajar ou desencorajar?
Do seu desabafo nasceu esse meu texto, e pela sensibilidade contida no que ela me enviou, sei que será uma despretensiosa bússola muito mais poderosa do que qualquer resposta objetiva.

Há pessoas que escutam com o coração.

Crescer é a mais solitária das navegações. Você “cai” sem para-queda em um mundo que está pronto muito antes da sua chegada.
Pai, mãe, tios, avós, carregando seus fardos decorrentes de vivências anteriores a sua chegada. Quantas coisas boas e outras tantas ruins já te esperavam... E você sem culpa e sem defesa vai vivendo e muitas vezes sobrevivendo a pessoas já adoecidas pela vida e por suas escolhas equivocadas.
Enquanto cresce vai acumulando em si todas as idades. Dentro de você habitam todos os seres que você foi e todos aqueles que poderiam ter sido e que acabam envenenando o seu presente.
Ninguém tem apenas 15,30 ou 50 anos, carrega-se também aquele bebê de um mês, dois anos, o adolescente de doze, quinze anos, enfim, todos os outros “eus” que muitas vezes estão carregados de decepções, raiva, medo, solidão, palavras não ditas, não ouvidas, mágoas não reveladas. Todos esses “eus” te recriminam, censuram, amedrontam, desconfiam na intenção de te proteger da dor que um dia vivenciaram, e, temendo sentir novamente, boicotam as novas possibilidades.
“Eus” que emergem lembrando o que não receberam, o que podia ter sido e não foi. Sei que não há como livrar-se deles, mas eles podem ser silenciados para que você possa viver em paz, deixando vir à tona o melhor de si e podendo assim, receber o melhor do mundo.
Sempre chega o dia em que você deixará de ser filho, neto, sobrinho, para tornar-se você. Momento difícil, onde esses “eus” estarão lá, atravancando o caminho, preso ao que aconteceu e também ao que jamais aconteceu enquanto você crescia.
Perguntas invadem.
Nasci na família certa? Ou o momento é que foi ruim? O que saiu errado?
Quem sabe?
Não vale se consumir e nem se resumir... Foi como tinha que ser.
E um dia tudo modifica. Silenciam-se os muitos “eus” que teimam em te puxar para trás. Aquela criança que mora em você, também amadurece.
De repente encontros acontecem e você descobre-se inteiro, e um dia descobre um outro.
E se dá o encontro.
Com alguém que vê a vida pelos seus olhos.
Como isso aconteceu? Onde eu estava? Onde ele estava?
Pergunta é o sal da vida. Para que respostas?
E vocês se deixam aspirar um pelo outro.
Vocês atravessaram céus para pousarem no mesmo ninho e permanecerem lado a lado, pelo tempo que tiver que ser.
Nasce assim a história de vocês dois. E ela é livre, é doce, é canto.
Livre de medos.
Sem reservas.
Achando-se e perdendo-se na convicção de que cada amor tem a sua eternidade.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...