Depois de muito relutar chego à triste
constatação de que quem ama trai.
Contraditório sim, mas está aí. Após
muitos relatos, leituras, discussões e algumas “entrevistas”, acato isso com
pesar.
Como tudo na vida, o amor também
guarda sua relatividade, nasce e habita em seres completamente diferentes entre
si, e assim, é vivido de forma singular.
Segundo
Arnaldo Jabor:
O homem é capaz de te trair e de te amar ao mesmo tempo. A traição
do homem é hormonal, efêmera, para satisfazer
a lascívia. Não é como a da mulher. Mulher tem que admirar para trair; ter
algum envolvimento.O homem só precisa de uma
bunda. A mulher precisa de um motivo para trair, o homem precisa de uma mulher.
Há um princípio básico que fundamenta
esse sentimento que é o respeito. Eu acredito nisso. Sem respeito não há terreno
para o amor. Mas quem trai está desrespeitando? Para mim é óbvio que sim, mas para muitos,
não. Milhares (principalmente homens) justificam que “pulada de cerca” é algo
inofensivo, uma distração, um ato sem importância, vazio de significados.
Utilizam-se do corpo com mais irracionalidade que os próprios bichos.
Eles dão carinho às suas mulheres, conforto,
sexo de qualidade, passeiam juntos, trocam idéias sobre tudo, são amigos e
companheiros. “Apenas” ele guarda um segredinho (afinal todos precisam de
privacidade!?) – ele faz sexo com outra, pula cerca com o fôlego de um atleta,
mas é só para relaxar...
“Jamais
magoaria minha esposa! Por isso não conto nada a ela, também é uma mentirinha
inofensiva. Meu amor é para ela, sou inteiro dela. Eu a amo demais!”
Inteiro? Então você desatarraxa a
parte do corpo em questão, deixa lá no local se distraindo enquanto você fica
agarradinho a sua esposa vendo TV, e quando acaba vai buscá-lo e recoloca-o no lugar?
Não consigo enxergar as coisas de forma tão simplista. Sexo envolve todos os
sentidos humanos. É um momento de troca, de entrega, de descoberta, não há como
realizar tudo isso sem envolvimento.
Muitos garantem que há. Que tudo é
feito assim mesmo, de forma desmembrada, despersonificada, cabeça e coração em
casa e o resto in loco.
Eu continuo perdida, relatando o que
percebo, mas desacredito. Quem concebe o amor como eu o concebo, pode
compreender a minha dificuldade.
Ninguém está livre de se apaixonar por
outro e trair e, de preferência, ir embora, ou não, não há regras. Mas passar a
vida toda transando com outras e achar isso normal, é desconcertante.
O que eu posso atestar aqui por tudo
que li e ouvi é que esses homens dedicados à família realmente acreditam no
amor que destinam à suas companheiras. E elas? Bom, elas seguem felizes (dizem
eles), e nem imaginam o que fazem quando dizem estar com os amigos. Foi-lhes
negado o direito de escolher se querem ou não participar desse triângulo.
Entendi que o amor tem várias faces.
Inteligente é buscar uma que seja bem parecida com a sua.
Já cantava Milton Nascimento:
Eles amaram de
qualquer maneira, vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar.
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar.
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