Um
dos grandes aprendizados da minha vida é conviver bem com as diferenças.
Respeitá-las é algo inegociável no meu mundo. Gostando ou não, respeito e ponto
final.
Mas
tenho algumas dificuldades extremas que por vezes passeiam dentro de mim. Ficam
latentes, e eu luto até onde posso para que permaneçam assim. Não gostaria,
impotente de presenciá-las jorrar em direção ao outro. Pertenço ao time que
acha que desculpas devem ser evitadas, portanto prezo o fato de não precisar pedi-las
a ninguém. Assim nunca me permito aquele “momento estrela” onde jorra falta de
educação para todo lado, apenas saio de cena de maneira irrevogável.
Não
sirvo de exemplo para muita coisa, mas sem falsa modéstia, gostaria de ter a mim
mesmo como amiga. Tenho imenso prazer e amor em exercer essa função.
Perco
noite de sono ao lado, ando a pé do Oiapoque ao Chuí, seguro firme na mão quando
o mundo inteiro já virou as costas. Amigo meu não fica só. Paro tudo para estar
ao lado. Posso negar o convite para uma cerveja gelada, mas jamais para um dia
cinzento.
Não
é fácil encontrar quem chore junto, já para rir...
Mas
a mesma ênfase que dou ao reconhecer em mim uma qualidade, repito ao reconhecer
em mim um defeito. Quando uma chave indecifrável gira dentro de mim, pum! Morre
aquela amizade com a mesma intensidade com que nasceu. Como gostaria de
compreender o que acontece dentro do meu coração... Mas não consigo! O que
aciona essa chave? Desconfio de algumas coisas, mas sem medo de errar dou
destaque a não reciprocidade no sentimento.
Ainda
não aprendi a dar a outra face. E nem quero.
Quero
partilhas. Só permaneço quando algum tipo de fagulha ainda chega até mim, pode
estar fraca e esporádica, mas sou capaz de sentir se é verdadeira. Se for, não
desisto nunca.
Amizade
para mim não pede presença e muito menos satisfações, mas exige a reciprocidade
que impede o seu assassinato dentro de mim.
Algumas
vezes (poucas, é verdade) aconteceu. Naturalmente. Eu nem percebi...
Decepcionei-me uma vez, duas, na terceira, tudo – a situação e a pessoa - já me
ficaram indiferentes. Não pensei mais no assunto. E quando um dia o encontrei, já
era um estranho para mim. Conversou, me
buscou de todas as formas. Foi em vão... Eu tentei, briguei comigo mesmo, lutei
contra a chave, quis deixar tudo de lado e recomeçar, mas já era tarde.
Do
fundo do coração, eu não queria que fosse assim. Mas é involuntário. Morte é
para sempre. Sou incapaz de desejar qualquer coisa de ruim, simplesmente porque
“quem deseja, deseja algo a alguém” e não existe mais esse alguém para mim.
Ainda
luto por conquistar outra postura. Perdoar é fácil. Louco de quem se acha no direito de não perdoar seu semelhante. Mas apagar apenas o fato e permitir que a pessoa permaneça, é o meu grande desafio.