Ela esconde dentro de si um segredo tão bem guardado que a irrita pensar
nele.
Quando pensado, torna-se ameaça.
É vã a tentativa de escondê-lo acima de tudo, de si mesmo.
Quer fugir do que por vezes sente, e na maioria das vezes, consegue.
Precisa ser assim.
Queria que fechassem a cortina antes que essas cenas invadissem sua
imaginação.
Para afastar-se desse segredo que teima falar, ela precisa afirmar
coisas que não sente.
Não é mentira. É só vontade de fazer com que aquilo que diz, torne-se
verdade.
Dizem que as palavras têm força.
Será que o silêncio tem mais?
Sua vida é comum. É boa. Chega a ser feliz, quando dá.
Não é carente. Não é solitária. Boa auto-estima. É amada.
Deveria sentir-se segura. E sentia-se. Até que.
Coisas tão sutis têm o poder de arrancá-la de sua zona de conforto,
privando-a momentaneamente de sua paz, derramando sobre ela a pergunta já quase
esquecida - como teria sido?
Tudo em vão.
Sublimado
Racionalizado.
Dispensa surpresas.
Agradece (im) possíveis renovações.
Amassou (quase) todas as lembranças do que nem viveu e lançou longe.
Quem disse que ninguém manda no coração? Ela já disse. Não diz mais.
Difícil comandar o pensamento acerca das possibilidades do que não foi
vivido.
Mas difícil não quer dizer impossível. Isso é razão.
Portanto, ela segue.
Dizem que ninguém sabe nada sobre o futuro. Ela concorda. E é nessa vaga
hora de incerteza que vaza novamente o tal segredo por todos os seus poros.
Ela perde o sossego por uns minutos. Mas logo se desfaz a doce imagem do como poderia ser se já não fosse do jeito que é.
E ela se acalma novamente.
Nada será modificado.
O segredo segue preservado, senão dela, pelo menos dele e do resto
do mundo.
Para sempre.
(Tentando não pensar que o pra sempre, sempre acaba)