A
escrita é feita de fragmentos de diversas histórias de vidas - vividas ou
testemunhadas. Só assim nasce um texto, uma crônica, um livro, um filme, uma
novela. Basta ter olhos para ver e tudo vira um rico material a ser
explorado.
Norma
era uma mulher de hábitos simples, vida linear, sem os deliciosos sobressaltos
da emoção. Até que sua pacata história é invadida por um belo cafajeste. Ele
lhe diz coisas que ela nunca ouviu, lhe promete um futuro a dois, lhe dá
carinho, amor, sexo. Ela, por sua vez, não conhecia nada sobre ele, e nem
precisava... Afinal ele já vinha com todos os créditos, pois a ele estava reservado o
poder de colorir a sua vida. Deu-lhe o que ela nunca teve, lhe disse o que ela
sempre quis ouvir, lhe prometeu um futuro de amor, lhe permitiu sentimentos e sensações
que ela até então desconhecia.
Um
dia ele mostrou a face. Era um bandido que a envolveu em um trama sórdida
levando-a a cadeia. O ódio tomou conta do amor. O susto, a decepção, a certeza
de que aquele amor era falso, foi mais duro do que os anos enfrentados na
cadeia.
Por
que me deixei enganar tanto? Porque fui tão idiota? Porque acreditei? Porque a carência faz
isso. Toda mulher quer ser objeto de desejo de um homem que possa antes
de qualquer coisa amá-la. Muitas sublimam essa faceta feminina em prol de uma vida
mais calma, onde o risco de uma decepção fique bem longe. Mas nunca ninguém
estará totalmente protegido. E quanto mais sufoca o lado
"mulher", mais vulnerável fica perante os falsos amores. Isso é fato.
Voltando
à novela, a vida da mocinha passa a ser movida pelo desejo de vingança. Em nome
disso ela se perde de si mesma - mente, mata, trai. E finalmente consegue
reverter à história, passando a ser algoz de quem um dia foi vítima. Mas... A
vida não é uma ciência exata. E apesar de toda a racionalidade usada para
cumprir o plano de vingança, ela voltará a ser a vítima. Fácil de entender. A
essência dela continua a mesma, assim como a dele. Apesar de tantos atalhos
tenebrosos pelos quais ela andou, ela continua a mesma mocinha carente, de
índole boa e ele, apesar de ter sido desmascarado e da aparente humildade recém
adquirida, tem a essência podre.
É
aquela velha e sábia fábula A
rã e o escorpião, só que dessa vez ela é ao mesmo tempo a rã e
o escorpião - ela promete a si mesma uma vingança que não conseguirá cumprir, ela
mesma se trairá, porque ninguém foge por muito tempo à sua natureza. É contraproducente querer
se igualar a quem te fez mal. Ninguém está imune de uma cilada no amor, a diferença está em como enfrentar esse momento. Você pode escolher
permanecer nesse círculo vicioso, de ódios e vinganças ou transformar esse
dolorosa experiência do passado em um futuro mais calculado, mas nem por isso
menos prazeroso.
Como sempre digo, na vida não há garantias, mas há caminhos mais prováveis.