Ana
Luisa casou-se grávida aos 17 anos com o namorado de 19. Ele formou-se e logo arrumou excelente emprego enquanto ela dava a
luz à segunda filha.
Quando
as crianças estavam com 10 e 12 anos soube que ele tinha um casinho de fim de
semana com uma garota tão nova quanto ela. Brigou, falou mal, odiou e resolveu
cursar uma faculdade. Não se separou.
Vinte
e cinco anos depois de uma vida a dois, muito conforto (que ela sempre teve pois nasceu em família rica), viagens e as filhas estudando no exterior
ela fechou seu balanço e chegou à conclusão de que não valeu à pena. Protagoniza um
casamento “sem liga”, e faz a mim a pergunta que faz a si mesmo, todos os dias em
que acorda: “porque não me separei quando ele me traiu?"
Eu não acho que essa pergunta seja produtiva, pois não vai te levar a nenhuma conclusão. Pode ser que você não tenha se separado na época simplesmente por falta de coragem. Mas pode ser que tenha decidido ficar por achar que ainda era válido tentar (é preciso coragem também para ficar...).
Eu não acho que essa pergunta seja produtiva, pois não vai te levar a nenhuma conclusão. Pode ser que você não tenha se separado na época simplesmente por falta de coragem. Mas pode ser que tenha decidido ficar por achar que ainda era válido tentar (é preciso coragem também para ficar...).
Acho
que a pergunta difícil e ao mesmo tempo produtiva é: “em que momento meu casamento
acabou e eu não percebi?” É preciso olhos
para ver, e isso é tão difícil! Pode de fato ter sido no momento daquela
traição ou não. Ter essa consciência é um treino indispensável à percepção - de si, do outro e da situação. Essa descoberta também não modifica em nada o que passou, mas abre portas para reconhecer novas possibilidades.
Casamentos
podem dar mostras do fim em momentos tão simples ... como quando se destina ao outro um
sutil olhar de desencanto. É essa a hora de romper a zona de conforto, antes de se perder dentro de si mesmo.
Relacionamento
a dois tem a fragilidade que sempre me pareceu própria da vida – hoje estamos
aqui, amanhã não mais. Como em um passe de mágica.
A
maioria (ou a minoria?) supera a traição (apesar de toda a minha dificuldade de acreditar nisso), e a partir disso encara a vida a dois de outra
maneira - faz ajustes e descobre novas formas de continuar, e ao olhar para trás
tem a nítida sensação de que tudo valeu. Ou não. Outros se divorciam seguem por outros caminhos e lá na
frente são acometidos pela dúvida em relação àquela decisão do passado. Ou não.
Tudo é relativo.
Ser feliz é um pressuposto essencial para decidir
por um casamento. Mas é preciso muito cuidado. Felicidade é de uma
complexidade imensa, não a estacione confortavelmente sobre o casamento, porque ele
corre grande risco de não suportar o peso. Felicidade é algo singular. Encontre a sua, para que seja possível complementá-la ao lado de outra
pessoa. Ninguém pode ser o responsável pela felicidade do outro. Ao descobrir coisas que te façam feliz, invista em todas, e se o casamento estiver entre
elas, dedique-se a ele também.
Viver
a dois é só mais uma entre as inúmeras formas que temos de ser feliz – é fundamental
para alguns, mas não é para outros.