Seus
imensos olhos negros e cílios inacreditavelmente longos são exatamente os mesmos de 16 anos atrás.
Quando
nos vimos pela primeira vez, fiquei impregnada pelo seu olhar. Encarou-me firme
e pude ouvir olá mamãe, vim para ficar
sempre ao seu lado. E é assim, do jeitinho que prometeu, meu companheiro de
todas as batalhas.
Foi
o bebê mais lindo que já vi (corujices à parte, já sou mãe de outros dois). Não
atravessou fase feia, aquela pela qual toda criança passa. Não foi um bebê
trabalhoso. Não chorava à noite, não fazia manha, andou e falou cedo, deixou as
fraldas muito antes que eu o estimulasse.
Toda
essa moleza ficou para trás depois dos cinco anos de idade. Foi difícil
crescer. Passou por perda irreparável, enquanto eu o ensinava que ninguém perde
o que não tem. Eu larguei o mundo por ele. Agarrei-me com todas as garras que
uma mãe leoa é capaz. Tantas vezes impotente, presenciava aqueles olhos imensos
nadando em água e o garoto destemido tentando em vão, segurar o choro.
Corajoso,
tocava gado, montava cavalos imensos, escalava montanhas, acampava no mato, mas
tinha pavor das incertezas da vida. Mãe,
e se você morrer? E eu prometia com todo o direito imaculado de mãe Fique tranqüilo meu bem, mamãe só vai morrer
quando você já for um homem. Percebia que ele se acalmava.
Sempre
admirei sua frontalidade perante o mundo. Nunca trouxe desaforo para casa,
defendia quem fosse preciso, e me esgotava descontando tudo o que não me cansou
quando bebê - Mãe porque o sol chama sol?
Mãe porque Deus não aparece? Mãe porque tem criança diferente de mim? Incansavelmente
ele seguia perguntando, e ainda segue até hoje.
Amo
meus três filhos, mas nenhum deles é tão meu quanto esse. O sofrimento dele e
minha vontade desesperada de aliviá-lo nos uniu com elos de ferro. E é recíproco. Por
um longo período, éramos só nós dois, apesar de todos os outros que estavam a
nossa volta. Até hoje ele se desnuda para mim através de seu olhar independente
do que sua boca fala aos outros.
Carrego
um orgulho que não cabe em mim de tê-lo criado. E não errei quando disse lá na maternidade que
nunca tinha visto um bebê tão lindo. Não vi mesmo. Sua
beleza se perde na generosidade. Sua intensidade quase me consome. E seus olhos continuam querendo engolir o
universo inteiro.
Inácio, filho
amado, você me sugou, exigiu de mim o que eu desconhecia ter para dar. Confesso
que foi difícil demais, às vezes não sabia o que te dizer. Percebia que não estava desempenhando o papel esperado de uma
mãe - eu também queria colo e você sempre tinha para me dar. Sua mãozinha
pequena ficava sobre a minha e juntos vencemos, afinal o pior já passou e finalmente você compreendeu que ninguém perde o que não tem. Apesar das tantas adversidades, sou privilegiada e agradeço a Deus por tê-lo deixado sob meus cuidados e por
senti-lo integralmente meu, mesmo percebendo que o mundo já começou a ficar pequeno
para você. Obrigada pela companhia. Te
amo. Feliz aniversário!