Não
sei o momento exato em que lançamos mão da nossa máscara. Talvez na
adolescência, onde desejamos ser quem somos e ninguém deixa. Compreensível, vamos
descobrindo o mundo enquanto ele nos descobre, e o danado costuma se
implacável. Tente não se enquadrar para ver! Os adultos, sempre por trás de
suas máscaras, contribuem na confecção daquelas que servirão aos neófitos,
geralmente filhos, sobrinhos, netos, enteados, alunos. Particularmente não gosto daquelas de resina,
prefiro como no teatro grego, confeccionadas em gesso. O molde não é tão
perfeito (mas não é esse o objetivo?), mas na hora de quebrar, fica mais fácil.
Ah! Você não sabia? Sim... Uma hora quebra.
Tem
também aquelas típicas de carnaval que seguramos nas mãos e a levamos ao rosto ocasionalmente.
Não
me recordo do dia em que usei a minha pela primeira vez – talvez tenha sido quando
entendi que fazia parte da minoria, não sei. Era muito pequena e o mundo já me
soava estranho. E pior, as pessoas também. Tentei a máscara de carnaval, mas
com o tempo acho que meu braço doeu de tanto que precisei levá-la à cara e
depois tirar. Estranhamente acho que eu tinha consciência que fazia uso desse
importante instrumento de adequação social. Lembro de minha mãe, muito educada dizendo “sorria
para as pessoas, elas não têm culpa de seu mau-humor”. "E eu? Tenho culpa por elas
passarem na minha frente, justo no momento que estou vendo tudo de cabeça para
baixo?" E
foi assim que desisti da máscara de carnaval e optei pela máscara de gesso.
Trocava-a como fazia com as roupas, de acordo com a necessidade do que estava
do lado de fora. Tornava-me socialmente aceita e seguia interpretando, como todos. Enxergando com os olhos da maioria.
Não
demorou muito e a máscara me incomodou. Se antes me sentia indevida aos olhos
do mundo, pior era esse estranhamento de mim mesma. Novamente voltei a fazer uso da
máscara de carnaval.E sigo com ela.
Hoje
o braço já nem dói, uso-a infinitamente menos. Ainda fujo dessa “normopatia”
social que me embrulha o estômago e turva a visão, mas para não viver no
isolamento absoluto, por vezes lanço mão da minha máscara, e sigo descobrindo
que tudo na vida tem a sua utilidade.