Quando tudo acabou pouco tínhamos
a dividir. Não havia filhos. Nem animais de estimação. Só uma roseira. Chegou
um dia em casa trazendo-a de presente para mim. Foi amor à primeira vista.
Diferente do nosso relacionamento, ela ainda permanecia linda, cheia de vida.
"Vou levá-la comigo."
"Não. Ela fica."
Quando retornei do trabalho, não
encontrei mais nada. Foi-se levando roupas e alguns discos.
Busquei desesperada pela minha
roseira. O chão me fugiu ao vê-la. Cortou-a quase até a raiz, atingindo-me mais
do que qualquer palavra dita. Senti-me ainda mais só.
Não tinha mais viço... Onde
estavam as folhas tão verdes, as rosas tão lindas, o perfume no ar?
E assim como aconteceu com nossa
relação, acreditei que também chegara seu fim. Precisava de muita coragem para
jogá-la fora.
Ao aproximar-me pesarosa, avistei
seu bilhete:
"Você não teria amor
suficiente para dividir com a roseira, em breve ela estaria murcha."
Porque as pessoas acusam as
outras de desamor? Cada um ama como pode. Como sabe. Como aprendeu. Amor não se
mede. Não há balança. Nem contabilidade.
Olhei para a roseira e pensei
"Vou dar a você o que sei".
Diariamente estive ao seu lado.
Conversei. Mostrei-lhe o céu azul e os dias de chuva. Expliquei que precisava
dela para novamente colorir meu horizonte. Foi minha companhia e meu desafio. Nós
duas precisávamos renascer.
Até que no primeiro dia de
primavera ela presenteou-me com uma rosa! E eu, com um sorriso.
Foi meu ritual de passagem.
Pessoas partem. Mágoas jorram.
Vidas são repensadas e renovadas.
E outras rosas virão.
E eu sei amar!