O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nidificar

Descobri o termo nidificar lendo Edgar Morin. Naquele exato momento uma sensação de conforto me envolveu. Inteira eu me assentei encaixando-me pela primeira vez no mundo. Por breve instante evaporou-se minha inseparável sensação de inadequação. Enfim encontrei o que fizera desde que me disseram que tinha crescido - eu nidificava. Passei a vida nidificando. Construindo ninhos. Independente das pessoas eu seguia acreditando que o aconchego era fundamental para haver acolhida. Para cada canto em que morei, fosse grande ou pequeno, garimpava diamantes. Meus ninhos nem sempre foram de amor para os outros, mas sempre para mim. Estar dentro de casa acolhida por aquela cadeira velha que fica na varanda, onde gosto de ler, não tem preço. Não me atenho ao GPS, não me importa a cidade, nem a rua. Sou como passarinho. Nidifico onde decido que vou ficar.  Foi isso que fiz com maior competência durante toda a minha vida. Engraçado, ter descoberto isso agora, a partir de um livro. Como não amar os livros?

Ter uma família em volta da mesa, embolada na cama entre casos e risadas é vida para mim. Ainda não me deparei com quem desse, de fato, valor a esse meu prazer em nidificar, e aos poucos finalizo minha tese de que "isso tanto faz". Meus ninhos são feitos para acolher, antes de tudo, a mim mesma.
Muitas e muitas vezes estendi minha cama com lençol macio sem perceber que tinham retirado o colchão sem aviso prévio. O tamanho da minha vontade em manter o ninho do jeito que planejei me deixou no vácuo inúmeras vezes. Acreditei que tinha nascido para viver em par, e ando me questionando: par para qual parte de mim? Para a leitora voraz? Para a nidificadora competente? Para a enfermeira cuidadosa? Para a amiga leal? Para a visionária contumaz? Para a amante? Para a cúmplice? Para essa parte de mim que ama incondicionalmente? Para meu egoísmo quando estou entre livros? Para minha seriedade que não me deixa relaxar? Para minha sensibilidade excessiva? 
Tirando meu querido "Pessoa", pessoas costumam ser apenas pessoinhas, sempre carregadas de seus passados que são poderosas sombras sobre o presente. Não há par para mim. Não sou melhor que ninguém, claro que não! Apenas sou consciente demais, e isso me impede de fazer de conta, por mais que por vezes seja necessário fazer de conta que estou fazendo de conta. Não sei me sabotar, mesmo parecendo em algumas situações que me saboto. Não formar par com o outra pessoa não significa ficar sozinho, significa apenas lucidez de que há um abismo entre ter alguém ao lado e fazer conjunto com esse alguém. Apenas uma vez na vida acreditei fazer conjunto com outro alguém, aquela coisa de arrumar a cama com total segurança de que tudo estava bem, mas um dia ao deitar e cair, perceber que não havia mais colchão. É a vida como ela é. Independente de estar ao lado ou fazendo par, sigo comigo mesma. É bonito ver pessoas amadurecendo, ainda mais quando elas aparecem do outro lado do espelho... Enfim, apesar dos tapetes que somem por debaixo dos meus pés de vez em quando, eu  nidifico sempre e, grata, percebo que hoje faço isso absolutamente independente do outro. Faço por mim e para mim. O ninho que construo acolhe minhas lágrimas e meus sorrisos. Nidifico com amor.  Antes de tudo, pelo amor que tenho por mim.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...