O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

domingo, 29 de julho de 2012

O tempo é agora


Em minhas incansáveis buscas deparei-me alguns anos atrás com o lema "Só por hoje" das irmandades anônimas. Nunca tive o prazer de presenciar uma reunião dessas. Estranho? Prazer sim, pois somos todos dependentes. E só por esse motivo essa frase exerce imenso poder em cada um de nós.
Uma das poucas verdades inquestionáveis na qual eu me apoio (mesmo que nem sempre consiga vivenciá-la) é a que diz que o único tempo que de fato existe é o agora - pois o ontem já se foi e o amanhã ainda será.
Perder vida remoendo o passado e planejando o futuro é um vício da humanidade que tem como conseqüência nos cegar. Perdemos aquilo que está no palco, já em cena, tentando adivinhar o que ainda está nas coxias. Deixamos de aplaudir o que acontece. Desperdiçamos chances, pessoas, sentimentos, situações a espera do que “pode” vir a ser.
Sei que é preciso um excesso de racionalidade para repensar o tempo. A preocupação em planejar o futuro é viciante. Mas adianta de que? E se você não estiver aqui amanhã? “Mas penso no futuro dos meus filhos” E se eles não estiverem aqui amanhã? 
Tenho uma grande amiga que tinha 10 anos de casada, quando decidiu separar-se “Só vou esperar meus filhos crescerem um pouco mais”. Eles cresceram, claro, e mesmo vivendo uma infelicidade crônica que adoeceu gravemente seu rim, ela disse “Vou esperar o fim desse longo tratamento dos meus rins”. Ela perdeu o rim e continuou (e continua) vivendo muito bem com um rim só. “Vou esperar meus filhos formarem”. Formaram. “Vou esperar só o casamento da minha filha”. A filha casou. E, enfim! Ela separou-se. Esses anos todos se manteve incansável, ao seu lado, o amor de sua vida, como ela sempre me disse, que a esperou pacientemente. “Mas como posso sair de um casamento de mais de 30 anos e me casar com outro? Vou magoar meu ex-marido e não posso fazer isso”. Mais uma vez o grande amor entendeu, e aguardou mais um ano para que pudessem ficar definitivamente juntos – ela, com 60 anos e ele com 65. Uma felicidade tão grande que invadia quem atravessasse a porta daquele lar. Foram 20 anos de espera e três meses de união. Mas... a vida não espera por nossas demoras, e, ontem ele faleceu. E ela também... Vai continuar viva, mas sem vida. Inconformada ela fica falando baixinho o tempo todo, como se fosse um mantra “Porque demorei tanto?” E eu, que tanto briguei com ela durante todos esses anos, para que tomasse a decisão de ser feliz, tento consolá-la dizendo que era para ser assim, mesmo acreditando que não era.
Não há estabilidade que possa garantir o futuro que por si só é e sempre será uma grande incógnita. Essa incerteza adoece o ser humano que desesperado busca  estabilidade. Que estabilidade, se hoje você está aqui mas não há como saber se amanhã estará?
Viver bem pede sabedoria e desapego. O tempo é agora.
Ser feliz não é coisa fácil, pede sempre muita coragem.

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