Eu percebo o mundo através das pessoas e das palavras,
preferencialmente pessoas e palavras que sejam desconcertantes, pois é essa
imprecisão que me fascina.
Cada vez sei um pouco menos, e quanto menos sei, mais busco
e quanto mais busco menos certezas me permito. Essa falta de completude me
move. Agarro-me ao conhecimento com todos os meus sentidos. Sou obcecada por
tudo aquilo que colabora para que eu me torne maior que eu.
Minha vida voltou-se muito para o universo dos
relacionamentos. E me surpreendo do quanto esse oceano é como o próprio oceano:
incerto e sedutor. Uma forma de tormenta. Que tem pressa.
Geralmente a capacidade de
racionalizar é proporcionalmente inversa às delícias de se apaixonar. Não vai
aqui nenhum juízo de valor. Até mesmo porque a probabilidade de não sofrer é
maior para quem usa o bom senso e
a crítica para guiar a expressão emocional. Os
menos racionais atiram-se, tropeçam, caem, machucam, mas em compensação...
Recebem mais, amam mais e até sonham menos porque se permitem experimentar mais
(entenda-se esse experimentar como se aventurar por terras que de fato ofereçam um algo mais).
No amor, quem se guia só pela razão, um dia vai sair em
busca do que ninguém poderá devolvê-lo – o tempo que ficou congelado, as
emoções não vividas, as luas que não foram olhadas, os abraços que não foram
trocados, porque estava pesando e medindo sensações e desejos, com o que lhe
era conveniente - por medo ou crença.
“É assim, o tempo: devora tudo pelas
beiradinhas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. E nada nem ninguém lhe
escapará, a não ser que faça dele seu bicho de estimação”.
É aquela hora de pesar e medir - Vale à pena investir? É essa pessoa
que quero para minha vida? Serei feliz convivendo com seu temperamento, suas
posturas, seus valores? A
razão redireciona e modifica a expressão das emoções. Não sei se isso engessa a
espontaneidade, talvez sim.
Prazer e satisfação são sensações agradáveis, mas tirando
essa similaridade, há grande distinção entres esses conceitos – um é só um
momento, o outro é uma escolha. Mas para escolher, é preciso se permitir o
momento. As emoções são mais rápidas que a razão.
É preciso manter a emoção enquanto
ainda se é platéia. Nessa hora é preciso pagar para assistir o primeiro ato.
Não sei se é uma escolha inteligente, aliás, nem é uma escolha, é quase um instinto
(ou o destino), o ato que leva a subir ao palco.
No momento seguinte é hora de lançar mão da razão. E a
partir daí decidir com consciência, se continua ou sai de cena, arcando com
todas as dores que isso pode causar. A mesma coragem que é preciso ter para se
lançar é preciso ter para se retirar.
Só acho que ninguém deveria se
retirar sem antes se lançar. O tempo não perdoa... Melhor o ferimento e suas
recordações cheias de vida, do que o vazio repleto da pergunta -“como poderia
ter sido”?