O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

E fugimos...


Passamos a vida fugindo.
De tudo. De coisas, de pessoas, de sentimentos, de nós mesmos. 
Fugimos a todo custo de ficar sozinho, e para tanto, aceitamos viver relacionamentos sem amor, para só então, descobrir que solidão a dois leva a uma solidão mil vezes maior.
Pagamos caro em cirurgias plásticas para fugir das marcas da idade e comemoramos cada ano de vida que nos trás justamente as marcas que vamos continuar tentando apagar.
Abrimos mão de quase todos os prazeres da vida com o objetivo de prevenir  doenças, e aí deixamos de beber, de fumar, de comer carne... Mas continuamos nos estressando no trânsito ou ao manter um casamento por conveniência. E ai, mesmo nunca mais tendo saboreado um belo churrasco, acabamos produzindo um câncer.
Pais se descabelam buscando uma "fórmula" para afugentar as temíveis drogas de perto de seus filhos, enquanto dentro de casa bebem e fumam "socialmente", desde que esses são bebês.
Trabalhamos feito louco para fugir das instabilidades financeiras, e com isso, a cada dia ficamos mais longe de nós mesmos e daqueles que amamos, e depois gastamos grande parte do dinheiro que guardamos para reaver a saúde emocional que perdemos.
Blindamos carro, subimos os muros das residências, contratamos seguranças para fugir dos assaltos enquanto a mídia manipula nossas escolhas, e como robôs, nos tornamos vitrines ambulantes que aguçam as diferenças sociais, e são iscas para os assaltos dos quais tentamos nos proteger.
Participamos de programas sociais através dos 0800 para afugentar a culpa que nos consome ao ver tanta desigualdade e vamos de encontro a uma miséria pior ainda, ao entendermos, muitas vezes tarde demais, que o que é fundamental dinheiro nenhum poderá comprar.
Quanto mais a donzela foge do seu príncipe, mais forte ele vive em seu pensamento.
Fugimos do novo, fugimos das mudanças, fugimos dos riscos, fugimos de ser e de viver de verdade. Sentimos culpa por tudo. Se falamos a verdade, magoamos. Se mentimos, somos desonestos. Se vivemos de acordo com nossa consciência, somos revolucionários, se seguimos a esperada conduta social, somos infelizes. Se acreditamos no amor, somos utópicos e sonhadores, se não acreditamos, somos frios e calculistas. Não fomos programados para a felicidade... Acostumamos a ouvir que viver é difícil, que todos temos problemas e seguimos confortáveis à situação de "vítimas do viver". E então, fugimos de todas as novas oportunidades que a vida, generosamente, nos apresenta... às vezes por medo, noutras por culpa, por insegurança, por pena. E  abrimos mão de quase tudo...
Fugimos do tempo que voa, enquanto a vida esfrega na nossa frente que a manhã já virou noite e que o carnaval já virou outro natal. O tempo não espera que nossos temores passem. E assim perdemos a chance do amor, de uma nova vida, de outro emprego, de outra religião... por temer desarrumar nossos hábitos, nossa rotina, derrubar nossas crenças e nossas "certezas". Por temer  finalmente encontrar a felicidade.
Quanto mais fugimos, mais perto ficamos daquilo que queremos afastar. Pólos opostos são imãs. Então, de um jeito ou de outro, a vida sempre nos encontrará. 
Enfrentar é mais inteligente que fugir. Viver pede alguma dose de coragem, mas ser feliz exige toda coragem.
Fechando com Clarice Lispector: "Tenho medos bobos e coragens absurdas"

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