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domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Encomendai o caso a Deus, Sancho"

Depois de me contar como se deu sua separação há 16 anos, quando o marido a abandonou com uma filha de três meses para ir viver com outra, eu lhe questionei de forma impulsivamente simplista (divergindo do que creio ser a vida) se naqueles 12 anos de relacionamento ela não percebeu que o marido era um mulherengo. E ela respondeu: "Mas ele não é mulherengo, ele apenas se apaixonou por outra." Fiquei surpresa com sua afirmação principalmente após ouvi-la narrar que passou os dois anos seguintes à separação agredindo-o  verbal e fisicamente - razão X emoção.  Quando somos magoados é preciso muita maturidade para não enquadrar o outro, condenando-o definitivamente. 
Na concepção dessa amiga, as pessoas  nascem infiéis, e morrerão assim. Eu não gosto de sentenças definitivas, é certo que todos temos tendências, mas basta motivação e o  padrão de comportamento poderá ser modificado. Somos seres inacabados, temos chance, e não fosse assim, de que valeria a vida? 
Convivi com a infidelidade  antes mesmo de perceber o mundo. Não entendia nada daquilo, mas sentia  o estrago dentro e fora de mim. Enquanto isso, eu crescia e desejava ter nascido longe daqueles telefonemas que tocavam de madrugada, longe das horas extras, longe das viagens de última hora, longe daquele mundo de invencionices. E eu, temendo me afogar nas intermináveis falsetas, me agarrava em minhas tábuas imaginárias que me levavam para a outra margem, onde o sol sempre nascia. Jurei vingar todos os homens. Nunca vinguei. Seria preciso coragem para ser o que eu não era. 
Apesar de, cada dia mais, acatar o determinismo que nos é imposto por diversos fatores, uma parte de mim defende, por experiência própria, que viver pede dedicação. Sobreviver é mais que viver, muito mais.   Somos compelidos, pelos padrões, a estagnar na caminhada. É preciso consciência  para não atrasar a evolução de todo o universo. Somos parte de uma engrenagem, somos responsáveis por nossa existência.  
"— Encomendai o caso a Deus, Sancho — tornou D. Quixote — que tudo se fará bem, e talvez melhor do que pensais, que não bole folha nas árvores sem a vontade de Deus." Mas ainda assim, é preciso empunhar nossas espadas. Creio que Ele anseie por nossa intervenção consciente, afinal, não é assim que educamos nossos filhos?
Sempre temi passar a vida estacionada no mesmo lugar, com os mesmos medos, os mesmos erros, os mesmos dias nublados. 
Eu não sei se, de fato, nascemos infiéis, mentirosos, manipuladores, etc, mas entre as pouquíssimas certezas que tenho na vida, está a de que ninguém está condenado a morrer tal qual nasceu.

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