O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

sábado, 1 de junho de 2013

Girando como um pião

A inconstância de tudo é uma grande lição que ainda não aprendi de cor. Sinto-me zonza quando a vida, de repente, me joga de lá para cá. E isso tem acontecido tanto...
Quando sai pela primeira vez do consultório do médico que diagnosticara um tumor no rim da minha mãe, não pensei em nada, apenas me recolhi à minha insignificância e pedi a Deus que não me deixasse perder a fé. Liguei no automático e fui. Mil coisas a organizar antes da cirurgia que seria realizada em outra cidade - faculdade, trabalho, escola, filhos, casa. Tive a impressão de que nada mais teria espaço em minha vida. Mas surpresa, me peguei, como sempre, preocupada com algumas pessoas tão importantes, dando-lhes a atenção de sempre. Eu já sabia que tinha facilidade para me dividir entre dezenas de afazeres, mas fui apresentada ao fato de que também sabia dividir meu coração entre a agonia de filha e a atenção destinada àqueles que já faziam parte da minha rotina. 
Em poucos dias, a certeza de que tudo estava melhorando. Na saída do hospital, finalmente ficou para trás o quarto escuro e a comida sem gosto.
Até que recebi o comunicado, em menos de 10 dias, que outra cirurgia seria necessária, dentro ainda desse mês. Experimentei um transe, enquanto ouvia o médico, em sua patológica frieza, dar a notícia. Enfrentar aquilo tudo de novo... E, antes de pensar nos meus tantos contratempos, para me manter ali, ao lado, havia a compaixão pela dor dela, física e emocional. Hoje fazem apenas três dias que tive essa notícia, e já começo a sentir o gosto da comida insípida e a visualizar o cinza que parece soltar daquelas paredes verdes. Novamente senti que nada mais me importaria. O foco seria esse. Todo o resto eu cuidaria depois. Mas novamente me vi preocupada com aquele a quem já me habituara a zelar. Mas a exceção seria apenas essa, no mais, decidi me recolher em mim. Eu precisava que fosse assim, e por dois dias eu consegui. Fiquei quieta. Não li. Não escrevi. Sequer pensei. Mantive alma e coração em silêncio, buscando toda a minha resiliência e deitando meus "porquês" no colo daquilo que já está determinado. Tentava fazer as pazes com meu destino. Permanecia assim, em estado meditativo quando fui arrancada desse meu "retiro". Privada do meu momento de humildade e aceitação. Precisava digerir, assimilar esse meu sentir, ainda tão confuso... É a filha que sofre misturada ao ser humano que tem compaixão pela dor outro, seja a mãe ou um estranho qualquer.
Ao me recolher, estava tentando racionar todos os meus recursos internos. Poupar sentimentos. Economizar energia. Não desgastar absolutamente nada em mim, me preparando para o que me aguarda. Mas fui privada disso. Mais uma vez invadiram minha vida, me arrancaram do meu sossego e fui pega tão desprevenida que caí e ainda não levantei. Me sinto como um pião que gira sem saber onde vai parar. Justo nesse momento, onde uma mínima escora, já seria luxo para o meu coração. Fui, então, ao único lugar onde poderia encontrar apoio e respostas, mas de onde tirei a ideia de que alguém tem obrigação de me acolher? Outro susto. Mas não culpo, afinal eu também invadi o espaço alheio, entrei derrubando a porta, e, por conta do meu mal jeito, fui convidada a me retirar. Continuo, então, girando sem entender nada do que me aconteceu.  Completamente perdida. Amanhã ou depois, me acho. Afinal, eu sempre me acho. E vou poder seguir em paz. E enfrentar com resignação os dias de quarto cinza, e, conseguir dar o que poucas vezes consegui receber - afeto incondicional.

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