O blogger é atualizado de acordo com as batidas do meu coração. É um prazer tê-los comigo.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Por quê?

 
Enquanto minha mãe passava por um delicado procedimento cirúrgico, em meados de maio, eu respondia, de dentro do quarto de hospital, um desabafo no instante em que chegou no blog. Foi um ato reflexo. Agora, acabo de  receber um e-mail de Samuel, o autor do desabafo, dizendo que gostaria que "nossa conversa"(como ele se referiu) fosse dividida com os leitores do blog, e, como só faço isso quando sou autorizada, aí segue nossa troca de aprendizado.
E, antes que eu me esqueça, Samuel, há uma frase que gostaria de ter lhe enviado junto a minha resposta, e não o fiz, segue, então, agora. Para você:
"Admiro os resistentes, os que fizeram do verbo resistir carne, suor, sangue, e demonstraram sem espaventos que é possível viver, mas viver de pé, mesmo nos piores momentos." (Luis Sepúlveda)
***
"Minha esposa foi morta por um câncer violento que a levou embora em 3 meses. Fomos um "bem-casado" casal durante 14 anos e fiquei exatos 3 anos sem pensar em me relacionar com uma mulher. Conhecia Vera desde a infância e nos reencontramos na saída do cinema, em menos de um ano estávamos juntos. Ela estava recém separada e com dois filhos pré-adolescentes, e foi quem primeiro demonstrou interesse em mim. Com o tempo fui abrindo meu coração para ela, e me apaixonei de verdade. Decidimos que eu manteria minha casa, mas eu vivia mais na dela, que  reformei, aumentei, mobiliei. Dei um carro no primeiro Natal juntos, depois paguei a prótese de silicone, depois comprei um pequeno sítio. Eu tinha bom relacionamento com o ex marido que presenciava o quanto eu cuidava dos filhos dele. Passado um tempo comecei a não poder estar na casa dela quando ele vinha ver os filhos. Depois passei a não poder estar na casa dela porque ele poderia chegar a qualquer momento. Depois não podia mais ir na casa dela, e ela, então, ia para a minha. Comecei a desconfiar do celular sempre desligado, das desculpas para não dormir na minha casa. Um dia um vizinho e amigo me disse que ela estava me traindo. Fui na casa dela e os filhos tentaram disfarçar para eu não entrar, entrei e a peguei no quarto que eu fiz e na cama que eu comprei, fazendo sexo com o ex marido. Se eu tivesse uma arma, teria matado os dois, sem dúvida alguma. Mas graças ao Pai, não tinha. Passei um ano me tratando Ninguém me explicou nada, nem Freud, nem o pastor, nem os livros de auto ajuda, mas encontrei alívio em alguns textos seus. Passei a beber muito mais ainda por não suportar ouvir de toda a cidade "você é um bom homem e não merecia passar por isso". O tempo passa e continuo querendo uma resposta, se ela dizia que me amava tanto, porque fez isso? Nos dávamos bem sexualmente, sei que éramos felizes, eu confiava nela e ela confiava em mim, ela tem muitas qualidades,  e eu sempre exaltei todas elas, sempre estimulei, tentei dar o melhor para ela. A família dela é maluca, mãe vagabunda que traia o pai com o próprio cunhado, Vera foi estuprada por um vizinho aos 17 anos, e só se casou porque a mãe ajeitou esse marido e ela foi obrigada a se casar, e ele ainda batia nela, e ela ainda me traiu com ele. Sabendo dessa vida tão triste eu tentei ser o melhor e o que eu recebi? Traição. Existe explicação possível? Acho que não existe, porque se existisse ela teria me dado eu vejo o sofrimento e o arrependimento dela. Então porque?´"
***
"Por que Samuel? Eu também convivo com tantos porquês... será que alguém não os tem como companhia? Olhando de fora a leitura parece tão simples - ela é uma louca, ou vagabunda, afinal quem cometeria a insanidade de trair um homem que cuida, nutre, protege, ama? Ninguém não é? Talvez a lógica fosse essa, mas não é. Tente negociar o seu porque e passe a perguntar porque você sofre tanto por uma pessoa que não lhe quer... Isso sim, olhando de fora ou de dentro pede uma simples leitura - ela não me quis, ponto final. Quando somos abandonados o primeiro impulso é tentar descobrir onde erramos. Não faça isso. Limite-se a aceitar. Difícil? Eu sei. Mas é sábio. Sua dor nasceu de uma decisão de outro, a você nada resta a não ser se resignar. Eu entendi durante a minha vida, na experiência dos meus abandonos, nos vários desabafos que recebo no blog, que a raiva é um imã que fica sempre colada no tapete em que você caiu quando te deram a rasteira. Liberte. Primeiro a si mesmo - você não foi culpado de nada! Era um bom amante, um bom amigo, um bom padrasto. Depois liberte-a - ela é produto de um meio ruim, lembra-se? Generosidade tem um poder abençoado. Experimente. Talvez nem ela tenha a explicação... Provavelmente se ela pudesse, teria feito diferente. Tome isso como resposta.
Os porquês nos adoecem, e eu entendo você. Mas pense nessa frase: "Há uma causa oculta por trás de toda e qualquer enfermidade. Elimine a causa e a doença desaparece." Esqueça os porquês. Em algum momento, a dor desaparece, sim. Creia nisso. E abra espaço porque certamente, outros porquês lhe aguardam vida afora."

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