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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Morreram partes de mim

Eu estava ainda deitada na cama. Ele saiu do banho, se aproximou de mim e disse "pronto, agora é só te matar". Sorriu, completando "não é assim que fazem nos filmes?" Eu ri.
Aquelas palavras continham verdade. Significados e significantes. Era uma brincadeira ali. Seria uma verdade acolá.  Outros e outros momentos como aquele. Nunca mais fui carinhosamente ameaçada de morte. O tempo passou. Estou viva. Mas morreram partes de mim. Ou uma parte. A melhor. Aquilo não era uma brincadeira. Era uma promessa. E como deve ser com uma pessoa de palavra, cumpriu-se. Morreu meu olhar sobre o outro. Minha crença nas palavras alheias. Minha capacidade de enxergar a alma. Matou minha boa fé. Matou minha singeleza. Perdi uma luta de tantas décadas, e, depois de resistir a tanta coisas, percebo que endureci. Será? Temo perder a ternura, mas algumas coisas novas me levam a crer que não... Há estoque de ternura em mim. Tive medo de passar a desrespeitar o amor. Tive medo de nunca mais querer cuidar do outro. De não ter mais colo a dar. Nem mãos para afagar cabelos. Nem palavras doces para acalmar tormentas. Tive medo de não querer mais oferecer a minha mão. De não sonhar. De não ter ilusões. Ainda me assombro. Acordo no meio da noite. Adormeço durante o dia. É estranho experimentar medos novos. Medos que nasciam enquanto certezas tão doces morriam. Mas vez por outra percebo que  nada em mim está definitivamente morto. Deixou-me ranhuras, mas tenho inteirezas maiores.
 

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