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domingo, 7 de julho de 2013

No fundo, somos um só

Nasci primeira - primeira filha, primeira neta, primeira bisneta. Sempre a primeira aluna da sala, primeiro lugar nos concursos de poesia, primeira a se apresentar em um recital de piano, aos 6 anos de idade (tocando prelúdio, e não valsinhas). Fui crescendo e, sem esforço, fui deixando para trás todos os primeiros lugares. Passei de orgulho a problema para meus pais. Odiava aquele refinamento - guardanapo no colo, dezenas de copos e talheres à mesa. Enquanto minha mãe se equilibrava em salto agulha, e, maquilada, desfilava sua elegância, eu me agarrava ao tênis e jeans, levando-a ao desespero por não aceitar sequer um batom. Não participava das reuniões com os filhos dos seus amigos. Minha turma era outra, meu sonhos eram outros. Eles projetaram em mim o que eu jamais poderia realizar. Um dia desistiram de me "adestrar". Meus olhos eram atentos demais para aquele universo de olhos vendados. Fiquei sozinha muito cedo, e por muito tempo. Levei daquele ambiente em que cresci, muitas referências do que não fazer. Ainda assim, tive boas coisas, como acesso a uma biblioteca daquelas que vai até o teto, com direito a escada que corria nos trilhos, tive o som clássico do piano nas madrugadas insones de minha mãe, tive cultura, bom gosto e educação, em detrimento do tanto de outras coisas, emocionais, que me faltaram. Ninguém me ensinou sobre o amor. Queria ter presenciado afeto. Relações para mim eram sinônimo de sofrimento. Jurei que conduziria minha vida de forma diferente. Não queria repetir aquele padrão. Consegui, ou o destino já tinha determinado? Ainda não sei. De qualquer forma, ao invés de me trancar, cultivei relações sólidas, fieis, prazerosas. Fico feliz. Nunca mais me senti tão só, diferente daquela época em que eu me isolava para escolher o mundo que queria viver e as pessoas que colocaria nele. Nem sempre acertei, claro, mas tudo foi de verdade, diferente dos referenciais que tive, onde fazer de conta era a ordem da vez. Até o que parece não ter sido de verdade, foi, porque a verdade "não contém", ela "está contida", e mora em mim, de um jeito próprio, um jeito dela, um jeito que não contrasta com a mentira, apenas se afina com a consciência. Me faz bem. E creio que faça bem a outros. Muita coisa que foi difícil, que foi ruim, que foi dor e deixou dor em mim, transformei em várias coisas que nem sei dizer. Nunca dei o troco ao mundo, nem bati em ninguém os tapas que me foram dados, ainda que muita gente tenha devolvido em mim, o troco por sua vida difícil. Ainda assim guardo comigo que ninguém causa dor ao outro por escolha, prefiro crer que isso ocorra justamente pela falta dela. Não consigo imaginar que seja de outra forma. Estarei sempre na linha de frente para defender o ser humano, porque no fundo, somos um só, filhos do mesmo Pai, ainda que haja tanto descompasso entre nós. No fim, tudo é apenas uma questão de tempo. E, de encarnações. Não tenho dúvidas disso.

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